Título
Original: How I Live Now
Autora: Meg
Rosoff
Ano: 2004
Editora: Record
Páginas: 175
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Eu me lembro
muito bem de quando o filme How I Live Now foi lançado. Enquanto ele era
exibido lá fora eu ficava aqui, intrigada e extremamente curiosa com relação à sua
história, procurando uma forma de assistir ao filme que tinha a bela e
talentosa Saoirse Ronan no elenco.
Demorei um bom tempo para conseguir assistir
ao filme, mas desde o momento em que tive a chance de conhecer essa história, de vê-la com meus
próprios olhos, ela se tornou uma queridinha. Quando, tempos depois, finalmente tive a chance
de adquirir o livro fiquei totalmente encantada com a capa fofinha, mas
confesso que levei meses até conseguir realizar a leitura. Hoje,
após meses esperando pelo momento certo, venho contar para vocês o que senti e
quais foram minhas opiniões a respeito desse livro que, mesmo sendo curtinho,
carrega uma amplitude de sentimentos, mensagens e lições consigo.
“A única coisa de que eu tinha certeza era que em toda a minha volta havia mais vida do que eu jamais experimentara em todos os anos em que estivera na Terra ...”
Minha Vida
Agora nos apresenta todos os acontecimentos através do ponto de vista de Daisy, uma
nova-iorquina de quinze anos que é enviada para a Inglaterra com a intenção de passar uma
temporada com sua tia e primos. Ao desembarcar no aeroporto ela começa a perceber a grande diferença de ares entre Nova Iorque e a cidade do interior na qual seus primos
moram, unido a estranheza da diversidade, está seu primeiro contato (mesmo que tanto quanto desajeitado) com seus parentes nunca antes apresentados. O primeiro que ela irá conhecer será Edmond, o primo que terá grande importância ao longo da narrativa e que cria uma conexão profunda com nossa querida personagem. É Edmond que apresentará esse novo mundo para Daisy, lhe mostrará a beleza e dificuldades com que vive, assim como as tristezas, pensamentos e encantamentos de sua mente e dos demais personagens que nossa personagem irá conhecer.
Quando chegam na residência afastada de sua família distante, Daisy logo percebe as drásticas diferenças entre sua vida em Nova Iorque e àquela que seus parentes levam. Seus primos vivem quase em totalidade sem a presença de adultos, já que sua mãe (tia de Daisy) está sempre trabalhando e viajando. Eles são praticamente independentes, cuidam da casa, dos animais que vivem na propriedade da família, plantam e mantém uma horta, levam uma vida regrada em suas próprias vontades e necessidades, porém pacífica e tranquila. Neste novo mundo, Daisy irá
conhecer as peculiaridades de Issac, irmão gêmeo de Edmond; Piper, a caçula encantadora da família e Osbert o irmão mais velho e por vezes desconectado. Ao passar dos dias nossa querida personagem principal irá se conectar e criar vínculos com cada personagem, ela irá aprender com eles, refletir sobre sua vida, seus sentimentos e o mundo, mas nada a prepararia para a guerra que gradativamente se instala pela Europa.
Essa obra será desenvolvida em três frentes, através de três partes distintas iremos conhecer uma parte da história de Daisy. Na primeira parte nós iremos acompanhar o cotidiano da personagem e de seus primos enquanto todos estavam juntos e reunidos na propriedade rural da família, esses acontecimentos nos serão apresentados nos períodos de antes e depois que a guerra se instala. A seguir, faremos parte do trajeto de Daisy e Piper pela segunda parte da obra, quando as duas são levadas para longe de casa, para um acampamento de civis montado pelo exército com a finalidade de proteger as pessoas e gerar alimento para os soldados. É nessa fase da narrativa que seremos capazes de observar o crescimento e amadurecimento da personagem, sua força de vontade e determinação, sua esperança e seu plano de voltar para casa, para aqueles que deixou para trás e que tanto ama. Durante a terceira parte, iremos entender as consequências da guerra na vida de cada um, além de receber um dos desfechos mais adoráveis que já tive a chance de ler.
“Não me entenda mal, não estou prestes a escrever um trabalho científico sobre isso. Acredito no mundo espiritual tão de-jeito-nenhum quanto qualquer pessoa. ”
A narrativa de
Minha Vida Agora é desenvolvida em primeira pessoa. É através dos olhos de Daisy que iremos acompanhar o cotidiano vivido com seus primos na residência da família, será através dela que observaremos como a guerra se estabelece e se alastra, é através de seus pensamentos que compreenderemos seus sentimentos, sua força de vontade, sua esperança, sua luta para reencontrar aquele que ama. É graças a forma como essa personagem se expressa e se manisfesta, como ela pensa, reflete e age que observaremos seu amadurecimento, seu crescimento, veremos como sua forma de ver o mundo é alterada. Meg Rosoff foi feliz ao se utilizar da mente de Daisy para contar a
história. É graças a personagem que seremos capazes de entender a grandiosidade das poucas palavras escritas neste livro, é através dela que observaremos como a guerra é nada mais do que o palco para todas as mensagens e percepções de mundo que veremos ao longo dessa narrativa.
É verdade que pouco se contextualiza ao longo de todo o livro. Não sabemos exatamente como a guerra teve início, o que estava em jogo ao longo de toda a sua extensão, não seremos capazes de compreender os motivos pelos quais ela ocorreu, e muito menos quem esteve ligado a ela. Confesso que em um primeiro momento senti muita falta de mais detalhes, de uma contextualização maior, mas conforme avançamos na história, conforme observamos o seu foco, deixamos de lado as peças que faltam e praticamente esquecemos daquilo que não sabemos.
Apesar de abordar um tema pesado e razoavelmente complexo, mesmo com toda a crueldade, a tristeza, a desolação e os acontecimentos vivenciados em uma guerra, o que o livro realmente quer nos apresentar é algo muito maior e importante do que a guerra em si. Mesmo nos apresentando todas as consequências, tudo de ruim que vêm junto de um momento como o vivenciado na história, é o lado psicológico dos personagens que ganha foco. Mas o que realmente prevalece, ao longo de cada fase do livro, é o amor em suas mais diversas formas! É a importância da família, dos laços e relacionamentos que criamos e fortalecemos, é a esperança, a chance de se reunir, são as conexões profundas que mantemos com pouquíssimos indivíduos ao longo de nossa jornada, mas que valem a pena qualquer desafio. Aqui observamos a luta pela sobrevivência, a vontade de retornar ao lar, a busca pela reunião com aqueles que
amamos. E é por isso que a bela conexão entre Daisy e Edmond é tão importante, e os
cuidados de Daisy para com Piper são tão graciosos e dignos.
“No final algo aconteceu. No final, o calor e o aroma e o zumbido baixo e pesado das abelhas me seduziram, funcionaram no meu cérebro como ópio, de forma que o carroço apertado de medo e fúria que havia e amparado todos esses anos começou a se desfraldar. ”
Com uma escrita
simples Minha Vida Agora nos encanta. Através da transformação de uma personagem
frágil em uma sobrevivente o leitor será cativado. Com acontecimentos muito bem
encaixados e interligados aos poucos somos presos por um livro que possuí
muito a oferecer. Suas poucas páginas escondem graça, tristeza, alegria, amor,
esperança e luta. Muito mais do que um livro sobre uma guerra desconhecida,
essa é uma obra envolvente, capaz de mostrar com poucas palavras a beleza por
trás de eventos trágicos e cruéis. Minha Vida Agora não possuí o destaque do qual merece, e se essa resenha for capaz de conquistar pelo menos um leitor, já me considero feliz!
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