Os Números do Amor | Helen Hoang

Título Original: The Kiss Quotient
Autor: Helen Hoang
Tradução: Alexandre Boide
Ano: 2018
Editora: Paralela
Páginas: 280
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Stella Lane está seguramente estável em seus números e tabelas. A vida pra ela sempre foi uma ciência exata, onde tudo pode ser calculado ou previsto. Suas assertivas a tornaram a melhor em seu ramo profissional. Ela é bem sucedida, tem a casa que sempre sonhou, e veste com orgulho o terninho de ótima qualidade feito sob medida para o seu belo corpo. Um corpo que nunca foi tocado pelas mãos de um homem que ela tivesse realmente gostado. 

Na verdade, os números não conseguem ajudá-la se o assunto é o sexo oposto e quando sua mãe continua pressionando-a para enfim apresentar um namorado, ela toma a primeira e mais lógica decisão em que consegue pensar: Stella contrata alguém para treiná-la. Se tem uma coisa que ela sabe bem, é que a prática leva a perfeição, e é por isso que ela está mais do que disposta a usar todo o dinheiro que possui para se tornar a mulher dos sonhos de qualquer cara. No entanto, quando ela se depara com Michael Phan, o acompanhante profissional contratado, ela só consegue pensar em fugir. Stella não tem certeza se conseguirá se concentrar na tarefa quando um homem tão lindo como ele a olha daquela maneira, como se conseguisse ver a garota de verdade por trás da fachada fria e recatada.

O tema já é velho, mas talvez nunca tenha sido abordado dessa forma. É comum encontrarmos dentro do gênero romance erótico, livros onde nos são apresentadas garotas de programa que acabam por se envolver romanticamente com seus clientes. Há certo fetiche na situação e já conseguimos notar que esse tipo de coisa vende. Encontramos a proposta também na leitura de Os Números do Amor, mas em um formato totalmente novo e interessante, que tenho certeza, você vai adorar conhecer.



Apesar de todo o erotismo que existe no fato da nossa protagonista contratar um acompanhante profissional, para justamente treiná-la em assuntos sexuais, fica evidente logo nas primeiras páginas que o enredo não traz isso como prioridade. Foi uma grata surpresa descobrir que a obra não se trata de um manual sexual cheio de clichês tediosos e irreais onde uma mulher se finge de ingênua e um cara faz o tipo professor aplicado. O que me encantou na escrita de Helen Hoang foi justamente o contrário, a delicadeza das cenas, a sutileza dos detalhes, a sinceridade dos personagens. 

"Mais um quarto de hotel, mais uma cama, mais uma cliente em seus braços. Era uma noite de sexta como muitas outras. Só que ele nunca havia se sentido tão exposto, tão vulnerável, e ainda não tinha nem tirado a calça."

Stella Lane não é uma personagem comum, ela tem Asperger, que é um transtorno do espectro autista e é caracterizado principalmente pela dificuldade nas relações sociais. O que explica porque uma mulher linda e bem sucedida como ela, não consegue se conectar com nenhum homem e iniciar um relacionamento. No início da narrativa, a autora fez questão de colocar claramente todas as características da síndrome em cada atitude da protagonista, o que gera empatia e envolvimento na história. Mas me incomodou que apesar de diagnosticada, Stella não passa por nenhum tipo de tratamento ou terapia que auxilie em sua condição, e a pressão dos pais, para que ela aja como uma pessoa sem nenhum tipo de dificuldade, também foi um pouco controverso. Não que essa seja uma possibilidade irreal, afinal é tristemente comum que as pessoas ignorem as doenças mentais e tal como os pais da protagonista, pensem que se houver um pouco de esforço por parte do portador, qualquer coisa seja possível.

No entanto, apesar de abordar com tanta intensidade as características da síndrome de Stella na primeira parte do livro, é possível perceber uma indiferença com que esses mesmos detalhes são tratados na segunda parte da história. As características perdem força e até mesmo somem após uma milagrosa relação sexual. E quanto à isso, não há argumentos. Em um primeiro momento eu tentei entender que a autora não quis causar uma repetição desnecessária citando o Asperger sempre que a protagonista vivenciava uma nova situação, no entanto esse fato, tirou a credibilidade anteriormente construída. A garota praticamente se torna outra pessoa em certo momento da história e não consegui conectar a personagem do antes, com aquela do depois. Nos agradecimentos - sim, eu também gosto de ler essa parte do livro - a autora comenta que ela usou as próprias experiências para inspirar Stella e menciona também que não há uma regra geral na síndrome e que indivíduos diferentes apresentam graus diferentes das características. Me pareceu uma justificativa para algo que ela mesmo percebeu na trama mas não quis ou não conseguiu alterar.

Na história também temos a chance de conhecer o ponto de vista de Michael Phan, um asiático de origem humilde que encontrou no serviço de acompanhante a solução para os problemas financeiros da família. Apesar do serviço por ele desempenhando, ficou evidente o esforço da autora em mostrar um homem romântico e carente de amor que se envolveu rapidamente com Stella, apesar de já ter conhecido várias mulheres antes.



Não posso negar, o homem é incrível. Ele é fofo, preocupado com a mãe e com as irmãs e o principal, respeita as mulheres com uma veneração admirável. Ele está acostumado com o tipo de mulher que só se preocupa consigo mesma, o que não deveria ser estranho, já que ele está sendo pago para fazer exatamente isso e o que mais ama em Stella é que ela se preocupa também com o prazer dele. Mas isso também é um pouco irreal, já que ele cita alguma mulheres que se apaixonaram por ele durante o serviço e o perseguiram depois. São detalhes que nós leitoras mais exigentes percebemos logo de cara e que acabam por prejudicar a narrativa e o desenrolar da história.

Mas se tem uma coisa que ganhou pontos comigo, foi a delicadeza das cenas a dois. São lindas e descritas de forma a abraçar todos os sentidos. Você consegue imaginar cada minuto do que está sendo vivenciado por Stella. A descoberta do prazer, a aceitação pelo próprio corpo, a percepção de que ela também precisa ser amada. Michael não faz apenas sexo com seu corpo, mas ele inunda sua mente de sensações nunca antes sentidas. Talvez por causa da condição dela, mesmo um simples beijo ganha proporções únicas e eu senti o mesmo toque atencioso dos dramas asiáticos que eu tanto amo. E não por coincidência, Stella também assiste os tais seriados asiáticos e é exatamente por isso que escolhe Michael que lembra muito um certo ator coreano. No início não fica claro se Stella realmente está se apaixonando ou se é apenas uma obsessão, como ela mesma cita em alguns momentos e essa incerteza instiga a leitura. Também é curioso ver como Michael se entrega a esse sentimento tão assustador chamado amor.

De um contrato sexual, o casal passa para um contrato sem contato físico algum, já que Stella acredita ser necessário treinar apenas sua interação social e é nesse momento que somos apresentados aos personagens secundários, que demoraram um pouco para aparecer, mas que foram bem aproveitados desse momento em diante. A família de Michael é tão incrível e interessante quanto ele próprio, as passagens onde esses membros são apresentados são envolventes e engraçadas. Eles cumprem bem o papel e dão um toque mais humano a trama. A interação de Stella com eles é bastante agridoce, já que sua dificuldade em se relacionar com estranhos torna tudo muito intenso.

Para nós fica óbvio que Stella passa muito dos limites em algumas das coisas que ela faz e fala em sua primeira visita a casa de Michael, mas ela não consegue compreender o que ocorre quando um clima extremamente desagradável se instala no ambiente. Por medo de ser ridicularizada Stella esconde de todos que possui Asperger, o que causa vários desentediamentos, mas não é aquele tipo de coisa que você pensa que é exagero manter escondido. É compreensível que Stella tenha medo de perder o homem que ama por ser diferente, que ele a olhe de forma diferente após descobrir seu segredo. 

De forma geral, Os Números do Amor traz uma leitura envolvente e delicada, daquelas que aquece o coração mas que também desperta a sensualidade. Alguns detalhes poderiam ter recebido um pouco mais de atenção, e o drama deveria ter sido melhor explorado, apesar disso é você não vai se arrepender de colocar mais esse livro em sua lista de desejados.

10 comentários

  1. Olá! Essa é a primeira resenha que eu li, que aponta esses aspectos negativos em relação ao enredo do livro, anteriormente só havia lido coisas positivas, mas é realmente estranho que o comportamento da protagonista mude de forma tão rápida, e que ela não tenha o acompanhamento médico necessário para lidar/superar sua condição. Gosto que o livro foque não apenas na parte hot do relacionamento dos dois, mas também na construção do relacionamento em si, e nas dificuldades que eles enfrentarão. Michael parece ser um personagem incrível, e tenho certeza que vou adorar acompanhar o desenrolar dessa história.

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  2. Não é plágio nem nada, mas foi impossível não ler o comentário acima e não me dar conta de que realmente é a primeira resenha que contenha alguns elementos negativos.
    Não havia lido nada ainda a respeito deste ponto negativo,só coisas positivas. Principalmente em relação a doença da personagem e do amorzinho que é Michael.
    Em outro blog acabei lendo que o excesso de cenas eróticas atrapalha o enredo,mas pelo que li acima, não é apenas a parte erótica, é o carinho entre os dois, penas que tenha sido bem rápido.
    Mas mesmo assim, quero muito poder conferir o livro e não sei os motivos, mas vou adorar!!rs
    Beijo

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  3. Oi Natasmi,
    Adoro livros de conteúdo adulto, por isso já li vários desse gênero, mas nenhum que me apresentasse uma protagonista com uma condição como essa. Tenho que ser honesta e dizer que pouco sei sobre a Síndrome de Aspenger, mas me deixa feliz saber que os autores podem escrever histórias com personagens visando uma maior inclusão social e representando vidas totalmente normais. Por mais que o enredo pareça óbvio, não foi essa sensação que tive ao ler a resenha. A autora aqui nos apresenta aspectos diferentes em uma protagonista e a partir disso a história tende a levar a trama para um lado bem mais interessante. Trazer uma presença maior da família de Michael neste enredo me parece que foi fundamental, pois há uma importância grande na presença deles, principalmente para as interações sociais de Stella. Mesmo que ao final, a autora tenha se perdido um pouco na condução da história e dos fatos já apresentados, acredito ser um romance que vale muito a pena ser lido.

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  4. Não conhecia Os Números do Amor e, após ler a resenha, entrei em um grande conflito sobre minha decisão de leitura ou não da obra. Bom, eu adorei as características que a autora coloca na narrativa: uma protagonista com Asperger; um cara asiático; narrativa sem muito foco no erotismo. Mas, em contrapartida, há o deslocamento da narrativa ao decorrer do desenvolvimento do livro e a demora de surgir novos personagens, o que pode deixar toda a narrativa mais lenta. No geral, não adicionaria o livro em minha lista.

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  5. Oi, Natasmi
    Li várias resenhas sobre esse livro e ainda não tinha visto o ponto negativo.
    Mas é a primeira vez que tem uma protagonista com autismo e entendo que a autora quis passar ao leitor nem todos autistas tem comportamentos iguais. A doença tem vários graus e o relacionar com o outro para eles é um pouco difícil.
    Quero muito ler o livro esta na minha lista de desejos desde o seu lançamento.
    Beijos

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  6. Eu tinha gostado da capa e tinha até colocado na minha lista de desejados do Skoob. Mas após a resenha eu confesso que desencantei pelo livro. Primeiro porque eu não sabia exatamente do que se tratava. Não sabia que a personagem tinha esse problema de Asperger. Confesso que minha experiência com personagens com transtornos são péssimas e eu sempre abandono os livros.
    Não tenho muita paciência para lidar com isso.

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  7. Com três estrelas, geralmente eu não compro o livro para ler, só se ganhar. Mas tirando o personagem que parece ser uma graça, bem fofo, as outras coisas parecem que não foram bem trabalhadas, é interessante ter uma personagem com a síndrome, ainda mais que se pode saber como é a personalidade da pessoa que tem, mas achei estranho também não fazer nenhum acompanhamento médico.

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  8. Oi Nat,
    Não faço idéia do que seja a profissão de Stella, fui até pesquisar mais sobre ela, e olha, muito bacana, casou mesmo com o título, rs.
    Lendo algumas resenhas, eu me surpreendi com ter um toque sensual, acho que não esperava, mas acho ótimo que a autora tenha conseguido manter o romance fofo, e ainda assim, nos presentear com cenas mais intensas.
    Não conheço muito sobre essa Síndrome, outro ponto legal para mim, já que lendo posso entender melhor o que uma pessoa que a carrega passa.
    Enfim, gostei de como foi apresentado a relação dos dois, acredito que humor também esteja presente no livro, sem dúvidas irei ler.
    Beijos

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  9. Natasmi!
    Chega tô me abanando com tanta lindeza desse homem... affee!
    Gostei demais da premissa de uma garota que tem Síndrome de Asperger e contrata alguém para ser seu acompanhante e acabam se apaixonando, tornando o relacionamento inusitado para ambos e pelo visto, muito hot, adorei!
    cheirinhos
    Rudy

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  10. Gosto muito de livros que tem como personagem principal alguém não tradicional e com alguma síndrome, mas realmente detesto quando eles usam o romance para mostrar que “com amor tudo está resolvido” quando foi lançado esse livro até coloquei na minha lista, mas depois de descobrir que a autora usa o sexo para resolver as questões, sei lá, não me agradei

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