Resenha: De Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana

Título Original: De Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana
Autor: Mário de Andrade
Ano: 2017
Editora: Martin Claret
Páginas: 470
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Mário de Andrade é considerado um dos grandes ícones literários brasileiros que fez parte da Semana de Arte Moderna de 1922, marco do Modernismo Brasileiro. Este evento – destinado a divulgar a arte “genuinamente brasileira” – foi organizado por intelectuais e artistas cujas obras são estudadas até hoje, quase cem anos depois, por suas inovações estéticas e por terem se tornado referências culturais no Brasil. 

Nesse sentido, não poderíamos falar de literatura modernista brasileira sem falar de Mario de Andrade. Poeta, romancista, crítico literário, folclorista, músico e ensaísta, Andrade possui uma trajetória artística e literária surpreendente. É um dos nomes mais influentes da literatura brasileira.

Difícil citar qual é a obra mais importante deste escritor. Acredito que normalmente vinculamos o seu nome ao romance Macunaíma, no entanto, a riqueza de sua obra poética não pode deixar de ser mencionada já que é justamente em um dos seus livros de poesia que encontramos aquele que é dito como o manifesto modernista: o Prefácio Interessantíssimo. 

Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
Este prefácio, apesar de interessante, inútil. [...]
(página 35)

De Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana é o lançamento da Martin Claret que mostra a trajetória poética do escritor Mario de Andrade. São várias obras em verso, publicadas entre 1922 e 1945. Unidas em um único volume, o leitor pode perceber as diversas facetas e o caminho percorrido pelo autor na literatura modernista brasileira. Em Pauliceia Desvairada, a primeira obra deste livro, encontramos uma poesia combativa, comprometida com a renovação da identidade nacional. Pode-se dizer que o poeta está bastante contagiado pelo movimento modernista e a arte vanguardista.



Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela;
Não abuso. [...]
Não pretendo obrigar ninguém a seguir-me.
Costumo andar sozinho.
(página 44 em Pauliceia Desvairada)

Losango Cáqui, Clã do Jabuti e Remate de males também estão presentes neste volume e fazem parte, junto a Pauliceia Desvairada, ao que poderíamos chamar de uma primeira fase da poesia marioandradina. Todas essas obras foram publicadas na década de 1930 e trazem experimentos poéticos em verso livre e São Paulo como um “personagem importante”, símbolo da modernidade e palco de desenvolvimento urbano e cultural.

Já estou livre da dor...
Mas todo vibro da alegria de viver.
Eis por que minha alma inda é impura.
(página 130 em Losango Cáqui)




A fase mais madura de Mario de Andrade também está presente em De Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana. Os poemas de Lira Paulistana e O Carro da Miséria foram escritos durante o Estado Novo e, nesta época, o poeta compunha uma poesia extremamente política, denunciando a miséria, a exploração e outras injustiças sociais.

Vou-me embora paz da terra
Paz da terra repartida
Uns têm terra muita terra
Outros nem pra uma dormida
(página 288 em O carro da miséria)

Apesar de identificarmos essas fases poéticas do autor, não há aqui uma divisão temática necessariamente. Explico melhor: Mario de Andrade possui um projeto literário bastante consistente e não há uma ruptura em sua obra, ou seja, seus versos sugerem uma série de temas muito prezados, muito importantes para o poeta e perpassam por todas suas obras, em menor ou maior escala. Mas estão ali, emergindo e revelando-se a cada página.

I
Meu coração estrala.
Esse lugar-comum inesperado: Amor.
(página 101 em Losango cáqui) 


O leitor se vê diante de um primoroso exemplar da produção de Mario de Andrade. O escritor explora assuntos tão essenciais ao ser humano que, apesar de muitos não gostarem do gênero poético – ou o considerarem de difícil compreensão –, é impossível não se identificar com os versos. A poesia marioandradina fala da vida e da morte, da relação entre música e poesia, do espaço (no caso, a cidade de São Paulo), do tempo, da mudança e, até, de reflexões amorosas. Recomendo e muito a leitura de De Pauliceia Desvairada a Lira Paulistana. Viaje pela paisagem paulistana, escute a melodia dos versos de Mario de Andrade. Leia! Você encontrará o que há de melhor de um dos grandes poetas modernistas brasileiro.

Eu nem sei se vale a pena
Cantar São Paulo na lida,
Só gente muito iludida
Limpa o gosto e assopra a avena,
Esta angústia não serena,
Muita fome pouco pão,
Eu só vejo na função
Miséria, dolo, ferida,
Isso é vida?
(página 422 em Lira paulistana)

9 comentários

  1. Gente,não me julguem mas nunca li nada do Mário de Andrade :O e caramba eu gostei demais da sua resenha sobre este livro!! Obrigada por essa dica!

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  2. Também não li nada do autor, embora muito bem comentado. Sou uma dessas que não é fã do gênero poético, mas achei interessante os versos ainda mais por falar da cidade de São Paulo que é onde moro rs.

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  3. Karina!
    De delícia ver uma obra tão importante do Mário ser reeditada e poder dar acesso a vários leitores que nunca tiveram oportunidade de apreciar os maravilhosos poemas modernistas, de ícone para o Brasil em termos culturas.
    Maravilha!
    “Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.” (Platão)
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Oi Ana!
    Mário de Andrade é um ícone! Essa edição da Martin Claret está divina <3
    é o tipo de livro para ler após um leitura mais pesada e cansativa. Também pode ser lido aos poucos.
    Gostei.
    Beijos

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  5. Oi Ana,
    Sei o quanto Mário de Andrade foi e ainda é uma grande referência ao Modernismo, mas nunca li nenhuma das obras do autor. Eu nunca fui uma apreciadora de poesias e isso me manteve afastada de conhecer a sua escrita. Não vou dizer que não fiquei interessada neste livro, (já que tenho lido mais literatura brasileira e tenho gostado bastante), pois fiquei, mas não é uma leitura que pretendo fazer imediatamente.

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  6. Não me lembro se li, e se li o que foi, de Mário de Andrade, no entanto essa resenha me deixou convicta que devo mudar isso, até por se tratar de um autor de tamanha relevância no cenário nacional.

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  7. Oi Ana.
    É a primeira vez que vejo falar desse livro, confesso que ele não faz muito meu genero não, não sou muito chegada a poesia, mas gosto de livros que ne fazem refletir a cerca da vida e o ciclo de morte.
    Bjs

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  8. Olá, já ouvi fala tanto desse mario de andradre porém nunca ouvir li nada dele, e esse livro me deixou curiosa por ler, os pequenos textos que você colocou são lindos, adorei cada um dele, me fez pensar na forma de como ele escreveu, espero ler algum livro dele!!

    OBs: nem sei se será aceito esse comentario no sortei porque estava ocupada, mas mesmo assim fiz questão de comentar!!

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  9. Nunca li nenhuma obra mas me pareceu tão bom de ler e apreciando é muito bom conhecer essa obra e também saber com é a escrita.

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