Resenha: O Conto da Aia

Título Original: The Handmaid's Tale
Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Páginas: 368
Ano: 2017
Amazon - Saraiva

O Conto da Aia é um romance distópico, da escritora canadense Margaret Atwood, que originalmente foi publicado em 1985, intitulado O Conto da Serva, mas que mesmo após 32 anos, continua atual. Lançado no início do ano no Brasil, pela editora Rocco, o livro se tornou um dos mais comentados e vendidos em todos os países. Mas, por que um livro tão antigo, nos deixa com a sensação de algo novo?

Após passar por diversas catástrofes, radiação, proliferação de DSTs e guerras civis, o que outrora fora os Estados Unidos da América, agora é a República de Gilead. Com a queda crescente na taxa de natalidade, devido a bebês natimortos, com deformações e até abortos espontâneos abundantes, um golpe de Estado é aplicado e um governo teocrático e totalitário toma o poder. A sociedade é dividida em castas. Nada de jornais, revistas, livros, música, filmes. As pessoas perderam tudo o que tinham, até suas funções. As mulheres nada mais são, do que propriedade do governo, para procriação. 

Somos conduzidos durante a narrativa, a rotina de uma pessoa que vive nessa ditadura, de uma aia. Dentre as milhares de mulheres que se tornaram inférteis, as aias são as que ainda estão em período reprodutivo, e que portanto, ainda são capazes de dar à luz. Conhecemos então, Offred, que assim como as outras, não é possível sabermos seu nome verdadeiro, pois até isso, elas perderam o direito.

“Somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes.”


Offred é quem nos conta a sua luta. Uma mulher forte, que mesmo sofrendo, busca encontrar sua filha e marido que lhe foram tirados. Ela presta serviços ao Comandante, um homem mais velho, de cabelos grisalhos e uma alma de jovem, e sua esposa, Serena Joy, uma mulher ríspida e manipuladora. Rita e Cora são as Marthas da casa. Elas são como governantas. Rita se mostra muito crente e áspera. Em contra balanço, temos Cora, com seu jeito afável e atencioso. Nick é o motorista do Comandante e na maior parte da narrativa, ele se mostra mais neutro e sempre muito discreto. 

O Conto da Aia nos proporciona experiências maravilhosas. Creio que por ser um futuro que não nos parece nem muito distante, nem difícil de acontecer, a obra nos coloca dentro dela. Sofremos com angustias, temores e até pequenas alegrias que nos são proporcionadas, pois criamos uma enorme empatia com a protagonista. O livro segue uma linha parecida com 1984 e Admirável Mundo Novo outros dois clássicos do gênero distópico. 

Margaret Atwood explora com maestria, diversos assuntos, como questão de gênero, religião, ciência, política e até ambiental, de modo a deixar a história bem real e atual. O enfoque principal é o ser humano, o quanto ele representa e qual o seu valor para a sociedade. A leitura é fácil, mas um pouco cansativa. Ao nos encaixar de forma incrível naquela realidade, acabamos passando por momentos de muito desconforto, sentimos até certo peso, o que acaba cansando. Mas o fato é que ficamos ávidos por saber o que vai acontecer. Me chamou muito a atenção, o fato de a autora desenrolar a história no presente, no passado e até no futuro, de forma fluida e difusa. A forma como foi quebrada a quarta parede, ou seja, como o narrador falou diretamente com o leitor, em um momento em que não se esperava, foi surpreendente.

"Conto, em vez de escrever, porque não tenho nada com que escrever e, de todo modo, escrever é proibido. Mas se for uma história, mesmo em minha cabeça, devo estar contando-a a alguém. Você não conta uma história apenas para si mesma. Sempre existe alguma outra pessoa. Mesmo quando não há ninguém. Uma história é como uma carta."




A obra enquanto objeto é linda, sua capa dialoga muito bem com o que é apresentado ao longo do livro. A diagramação é ótima, o que permite uma leitura fácil, como foi mencionado. O livro não possui muitos artifícios visuais, mas é rico em conteúdo. E uma coisa que me chamou muito a atenção, foram os títulos de cada unidade, alguns se repetiam, mas outros, entretanto, me deixavam com extrema curiosidade quanto ao seu conteúdo. 

O Conto da Aia é um livro excelente e muito recomendado para quem gosta de livros de distopia. Ele não possui sequência, mas é um dos dezesseis livros de romance da autora. A autora ainda transita em outras temáticas, como ficção curta, livros infantis, poesias e contos. Temos diversos títulos traduzidos da autora, como O Assassino Cego, Dicas de Imensidade, A Tenda e o recém lançado, Vulgo Grace. O Conto da Aia possui uma adaptação, a série The Handmaid’s Tale, transmitida pelo canal Hulu; e agora, Vulgo Grace também será adaptado para uma série, pelo Netflix. Pra quem gosta de distopias ou que tenham interesse em livros com uma pegada mais social, não deixem de aproveitar essa leitura. Vale muito a pena!

14 comentários

  1. Izabela!
    Em época de empoderamento feminino, esse livro parece ser um choque.
    Mesmo que seja uma distopia, ver tamanhas atrocidades serem empretadas as mulheres e aos menos favorecidos, causa certa repugnância.
    A verdade que mesmo com toda 'conspiração' por traz do regime e todo sofrimento, quero ler.
    E quero poder assistir o filme também.
    Um Novo Ano repleto de realizações!!
    “Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” (Carlos Drummond de Andrade)
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  2. Tive contato com este livro procurando a série na internet. A série estava sendo muito recomendada, então tive que ir buscar. Só não consegui chegar nela ainda(fila enorme),mas em breve verei com certeza!
    Gosto dessa pegada com mulheres fortes e que sempre vão atrás de suas próprias batalhas, mesmo com medo, mas deixando sempre a força de vontade prevalecer!
    Tentarei ler!
    Beijo

    ResponderExcluir
  3. Com certeza é um livro para nossa reflexão, que aborda temas muitos importantes e até mesmo difíceis de lidar. Eu diria que é uma distopia um pouco diferente, né?

    ResponderExcluir
  4. Quero muito ler a historia é muito emocionante apesar de revoltante, deve dar uma aflição durante a leitura saber o que fazem com essas mulheres sem dó e nem piedade, até que ponto o ser hunano é capaz de ir, é uma leitura bem reflexiva.

    ResponderExcluir
  5. Terminei de ver a série recentemente e adorei, mal posso esperar para ler o livro também.
    Acho que o que mais senti vendo a série foi: Medo... Nunca imaginei uma coisa dessas acontecendo nem na ficção, mas agora temo pela vida real também.
    Amei sua resenha! Beijinhos

    Toca da Lebre

    ResponderExcluir
  6. Esse livro foi bastante falado esse ano, ainda não li mas tenho muita curiosidade. O fato das mulheres serem tratadas como uma propriedade serve de alerta para todas nós, pois muitas sofrem abusos ainda nos dias de hoje!!

    ResponderExcluir
  7. Comecei assistindo o seriado, me surpreendi com essa distopia.
    Coloquei na minha fila de leitura logo que terminei a série,fiquei curiosa pra saber o que aconteceria com a June, achei interessante como o livro encerra a história, não estava esperando.
    Ambos são ótimos, recomendo!

    ResponderExcluir
  8. Oi Izabela.
    Eu AMO distopias, então acho que vou gostar muito desse livro. Uma das coisas mais surpreendentes desse livro é ele ter sido escrito há tanto tempo, mas mesmo assim continua sendo muito atual. É um pouco triste e assustador o quanto a realidade da história não ser algo tão distante para nós.
    Fiquei curiosa para saber como a autora transita a história entre passado, presente e futuro e ainda conversa com o leitor.
    Espero ler esse livro logo! Só depois de ler o livro irei conferir a série na Hulu.
    Bjs

    ResponderExcluir
  9. Oi Izabela :)
    Eu li esse livro mês passado e gostei muito. É cansativo, mas eu vi tantas situações que podem se tornar reais e algumas que inclusive já são em alguns países.
    Eu assisti a série logo depois e posso afirmar que gostei mais da série que do livro. A série foi bem mais além e trouxe explicações que o livro não possui, até por que a narração é na visão de Offred.
    fora isso, a escrita da Margaret é muito bem trabalhada, diferente e tem uma genialidade sutil. Espero ler mais obras dela *-*

    ResponderExcluir
  10. Quero muito ler esse livro, muito mesmo!
    Estou me segurando para ver a série, quero ler primeiro rs.
    Mas li alguns trechos e é de uma qualidade maravilhosa! Fora a abordagem. Aproveito e indico o livro "A Feiticeira".

    ResponderExcluir
  11. Oi, Izabela! Esse livro é uma obra prima da literatura! Ninguém deveria deixar de ler, por mais chocante e pesado que possa ser. Eu, como mulher, me senti profundamente mexida e atingida pelos acontecimentos narrados, mas digo que saí dessa experiência transformada. Muda a nossa visão sobre as coisas, é inevitável. Foi o melhor livro que li em 2017, e um dos melhores que já li até hoje.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  12. Apesar de já ter lido vários comentários positivos a respeito desse livro, ele não me deu vontade de ler.

    ResponderExcluir
  13. Oi, Iza! Já vi vários comentários positivos tanto sobre o livro quanto sobre a série, mas não sei porque nunca me interesso pela leitura, acho essa capa muito feia (esse deve ser um dos motivos) e tenho medo de o livro ter uma escrita maçante e como você mesmo disse tenho medo de de me cansar lendo esse livro. Mas um fator que sempre me chama a atenção são as questões que a autora aborda nesta história. Queria muito me interessar pelo livro para poder finalmente ter uma opinião formada sobre a história e sobre a série.

    ResponderExcluir
  14. Oi, Izabela!
    Nossa esse livro está super comentado e a série também estar sendo muito recomendada!! E como adoro uma boa distopia estou muito curiosa para ler essa estória!! Mas também quero muito assistir a série!!
    Bjoss

    ResponderExcluir