A Guerra que Me Ensinou a Viver | Kimberly Bradley

Título original: The War I Finally Won
Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Tradução: Mariana Serpa
Ano: 2018
Editora: Darkside Books
Páginas: 288

O universo de Ada sempre esteve delimitado pelo espaço existente entre as quatro paredes do apartamento que dividia com a mãe e seu irmãozinho Jamie. Os pequenos fragmentos do mundo, observados através da única janela do apartamento, eram sua única maneira de reconhecer os elementos que compunham a realidade e normalidade tão preciosas aqueles cuja liberdade possibilitava a realização do transgressor ato de deixar para trás os limites da própria casa.

Enquanto Jamie brincava e conhecia toda a vizinhança do bairro onde moravam, descobrindo uma nova aventura todos os dias, Ada lutava contra as dores e dificuldades impostas por seu pé torto. Muito mais do que enfrentar o árduo desafio de caminhar, a garota sofria com as agressões físicas e psicológicas de sua própria mãe. Um grande capítulo de sua vida foi marcado pela crença de que seu pé não poderia ser alterado, seus pensamentos e sentimentos não possuíam valor, seu mundo deveria estar limitado ao espaço daquele pequeno apartamento.

Quando a guerra - esta fria e cruel inimiga da crença na existência intrínseca de esperança e bondade na humanidade - aproxima-se dos arredores de Londres, forçando a transferência do maior número possível de crianças para áreas rurais, Ada descobre os mais diversos elementos da vida que lhe foi negada. A convivência com Susan, agora sua guardiã legal, permite que a menina desenvolva um sentimento que nunca foi capaz de sentir por completo, possibilita que enfrente seus maiores medos e traumas, reconheça seus defeitos e aprenda a superá-los, ou mesmo, conviver com eles.

"Se eu começar a tirar coisas do coração [...] se eu conversar com você, se for apanhar as fotografias... eu vou desmoronar. Não vou conseguir aguentar viver aqui. Não vou ser capaz de aprender o que preciso aprender para ajudar a minha família. Se eu me abrir, vou me desmantelar."



Enquanto Ada, após passar pela cirurgia de reversão para seu antigo pé torto, descobre que este nunca foi verdadeiramente o problema, vindo a enfrentar o medo da rejeição, a imagem que sua mãe auxiliou a construir de si mesma, estabelecendo a crença de que a menina nunca seria amada, a guerra contra o regime nazista assola toda a Europa. Casas são bombardeadas, famílias são realocadas, as crianças descobrem o significado de racionamento, conhecem a perda e o luto, percebem que existem mais características por trás das visões que criamos de cada pessoa que convive conosco e, assim, em meio ao contexto deste dramático período da história humana, Kimberly Bradley nos ensina sobre a própria humanidade.

Existe algo de mágico no olhar de uma criança, na profundidade de seus sentimentos, em sua maneira única e peculiar de aprender lições sobre si mesma e o mundo e, uma vez mais, a autora demonstra compreender muito bem cada um destes princípios. A escrita cativante, acessível e profundamente carregada de sentimentos une-se de forma graciosa à protagonista, destacando a essência do amor, aquele amor único e verdadeiro que não possuí barreiras, amor este que assusta por não exigir nada em troca, apenas a percepção de que o mesmo existe dentro de cada um de nós.



A criança também representa a flexibilidade, o pensamento que evoluí e recusa-se a fixar-se em ideias, pensamentos ou visões de mundo que, por meio de tantos exemplos e eventos, estão errados ou equivocados. Somente uma criança é capaz de moldar sua visão de mundo e perceber os profundos erros em nossa forma de viver e moldar o mundo, da mesma forma, somente uma criança seria capaz de estabelecer um verdadeiro sentimento de empatia com o leitor, possibilitando que este reconhece-se a humanidade que deveria existir em cada um de nós, assim como os erros que cometemos ou observamos serem cometidos, as consequências do preconceito e arrogância, a certeza de que a perda atinge cada um de nós da mesma forma, porém é o que fazemos com esse sentimento que define quem somos e seremos dali em diante.

A Guerra Que Me Ensinou a Viver consegue ser ainda mais profundo, tocante, adorável e repleto de mensagens do que seu predecessor A Guerra Que Salvou a Minha Vida. Assim como no primeiro livro, os eventos pertencentes ao período da Segunda Guerra Mundial fazem parte do contexto necessário para que o talento inegável de Kimberly Bradley possa desenvolver temas universais, apresentando ao leitor visões e mensagens sobre perda, luto, amor, superação e a certeza de que, em todos os lados possíveis, encontraremos aquela verdadeira essência da humanidade.

Confira o outro livro da autora:
1. A Guerra Que Salvou a Minha Vida
2. A Guerra que Me Ensinou a Viver

23 comentários

  1. Esse livro é a coisa mais linda,me emocionei muito lendo,tanto esse quanto o primeiro, pois a Ada nos dá uma grande lição de vida. As vezes a gente reclama tanto das coisas a nossa volta e não paramos para pensar que tem pessoas que viveram situações muito difíceis. A história da Ada é de superação e nesse livro ela aprende não só que é uma pessoal normal como qualquer outra,mas aprende a amar e deixar ser amada. É lindo quando ela se dá conta de que é feliz e tem pessoas que a amam muito a sua volta!!

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    1. Esse livro é um amor só né ?! Também me emocionei demais, e isso que normalmente não me ligo muito nesse tipo de obra !!!
      Você disse tudo Karina, a história da Ada é mesmo uma trajetória de superação !!! E o mais lindo é ver que ela foi aprendendo, de pouquinho em pouquinho, a lidar com seus traumas e fantasmas !!!

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  2. Quero muito ler, gosto de historias que envolvem a guerra, deve ser bem emocionante apesar do sofrimento da guerra ainda tem o da personagem, que foi muito maltratada pela mãe, tem que ter um preparo para ler, porque virá fortes emoções, sem falar que é apenas uma criança. A leitura deve deixar o leitor refletindo, sobre muitas coisas que essa garotinha em a ensinar.

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    1. Normalmente não leio obras contextualizadas no período da Segunda Guerra Mundial sabe ?! Mas esses livros me pegaram desprevenida e, por não focar tanto assim nos eventos da guerra, mas nas trajetórias de personagem, eu me apaixonei ainda mais por ele !!!
      Com certeza é uma leitura que vale a pena !!!

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  3. Desde qeu vi e li a primeira resenha deste livro, foi paixão a primeira letra! Amo livros com enredos fortes, que além dos dramas pessoais e fortes como a deficiência, traz também enredos familiares, onde essa "mãe" merece uns cascudos.rs
    Acredito que não seja apenas um livro sobre guerra,mas também sobre se superar, sobre se aceitar e com isso, enfrentar a vida!
    Está na lista de desejados e é preciso sim, falar mais uma vez do trabalho da DarkSide!
    Espetacular!!!
    Beijo

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    1. É exatamente isso !!! Esse livro não é tanto sobre os eventos da Segunda Guerra Mundial, mas sobre nossas batalhas interiores, sobre a possibilidade de superação de nossos traumas !!! Ele é lindo e cheio de mensagens e acho muito difícil o leitor não se emocionar, pois ele te cativa de um jeito que torna-se até difícil se desligar da história !!!

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  4. Como eu quero esse livro!!! Comecei a ler A guerra que salvou minha vida com muuuito pré atras e meio que a contra gosto dada a péssima experiencia com Jogando xadrez com os anjos, pois achei que a historia seria tao chata e melosa quanto. Mas graças a Deus que segui na leitura e hoje sou apaixonada e super ansiosa por ler a continuação dessa menina. Nunca quis tanto abraças uma "protagonista" como essa menina meiga e sedenta de carinho. só por saber mais sobre o que aconteceu com ela. A escrita dessa autora é meiga e cheia de sentimentos. Já quero muito!

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    1. Sabe Fabi, eu também estava com um pé atrás com relação a essa história, não por conta de outras experiência, mas sim por não "gostar" muito da temática da Segunda Guerra Mundial. Por isso morria de medo de não gostara do livro ... mas ele é tão incrível, tão repleto de mensagens, tão cativante que é impossível não amar né ?!
      Espero que tenha a chance de conferir a continuação, e tenho certeza de que irá se emocionar tanto quanto com o primeiro livro !!!

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  5. Oi Izabel,
    Ah, que livro mais emocionante... Não imagina como desejo ele, a autora conseguiu retratar bem uma história real e tocante.
    A relação da mãe com ela é tão maldosa, mesmo só lendo resenha já fico com raiva e não consigo de forma alguma justificar qualquer ato que ela tenha feito com a menina, é tudo muito triste, bom saber que ela encontra o carinho em outros ares...
    Beijos

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    1. Espero que tenha a chance de conferir essa obra Vitória !!!
      Ela é tão linda, emocionante e cativante que conquistou um espaço no meu coração, e isso que normalmente eu sou aquela pessoa que não leria nunca um livro como esse, rsrsr.

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  6. Olá, eu tenho o primeiro volume dessa trilogia em minha estante há bastante tempo, e agora que vi que a sequência consegue ser ainda melhor, vou tratar de colocar a obra na minha lista de prioridades. Tramas contadas pelo ponto de vista de uma criança conseguem ser extremamente tocantes e cheias de reflexões, sem contar que o contexto da guerra com o qual a autora trabalha torna a leitura ainda mais profunda. Beijos.

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    1. Fico muito feliz por saber que pretende conhecer essa história Alison !!! Esses livros são tão cativantes e repletos de mensagens, além de possuírem uma beleza única, que ultimamente tenho indicado essa leitura para todo mundo. Vale muitíssimo a pena !!! ;)

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  7. Izabel!
    Tive a oportunidade de ler o outro volume e fiquei tão emocionada e emocionalmente desgastada com todo sofrimento de Ada...E pelo visto o sofrimento continua, mas agora pela fome, pela desconfiança da chegada de uma alemã à casa e por suas próprias adaptações na nova vida. Claro que quero conferir e chorar muito como no anterior.
    Gostei demais desse seu trecho:"Na resiliência que vem da dor. Na superação que vem do medo. Na empatia, que reacende a humanidade. E no amor, é claro. Em sua forma mais pura e sincera."
    Desejo uma semana feliz!
    “Algumas quedas servem para que levantemos mais felizes.” (William Shakespeare)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA OUTUBRO - 5 GANHADORES – BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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    1. O foco desse livro muda um pouquinho Rudy, mas alguns elementos do primeiro são trabalhados com mais profundidade aqui e por isso ele consegue atingir um patamar ainda mais elevado !!! É tão lindo e emocionante quanto o primeiro !!!
      Tenho certeza de que irá gostar !!!

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Amei tanto a guerra que salvou a minha vida, que tenho certeza que irei amar esta continuação tanto quanto ou até mais! A Ada foi uma personagem cativante, e mal posso esperar para voltar a encontrá-la! <3

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    1. Também gostei muito de A Guerra que Salvou a Minha Vida, mas tenho que confessar que o amor bateu mais forte nesse livro aqui !!! *-*
      Já vou ficar aqui torcendo para que tenha a chance de realizar essa leitura. Uma coisa é certa, emoções e mensagens não faltarão !!!

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  10. Olá! Sou apaixonada por Ada e sua história, acho que nunca desejei tanto um livro como desejei o primeiro! E creio que esse livro seja chorar e morrer de amor por essa história e seus personagens. Este segundo livro juntei as moedinhas para poder comprar, e apesar da vontade imensa de ler, não furei a fila de leituras. Quero muito ver como Ada cresce e tira aquele peso horrível da mãe e das suas crueldades do coração. A edição da Darkside nem precisa de comentários né!


    Bjoxx

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    1. Aaaaaaa, eu adoro quando vocês comentam que mal podem esperar para iniciar uma leitura que comentei por aqui !!! E nesse caso, preciso dizer que é uma leitura que vale muitíssimo a pena. A história da Ada é um amor só, além de ser impossível não se emocionar com sua trajetória.
      Se existe uma continuação que não decepciona e consegue ir além do primeiro livro, essa é A Guerra que me Ensinou a Viver !!!

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  11. Oi, Izabel!!
    Estou estou aqui louca para conhecer a história da Ada, mas até o momento não li o primeiro livro A Guerra Que Salvou a Minha Vida, e li essa resenha e vejo que nesse segundo livro a Ada vai emocionar mais ainda.. Enfim quero muito ler esses livros incríveis da autora Kimberly Bradley.
    Bjos

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  12. Que enredo lindo! Parece ser uma história bem tocante pra se ler com um lencinho do lado haha. Não tinha ouvido falar desta autora ainda, mas achei uma ótima indicação.

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  13. A Darkside pra mim é a editora que mais trabalha o design dos seus livros e acho isso fantastico, da vontade de comprar pelo simples fato de ter o livro na estante e ver como fica lindo... rsrs
    É muito triste quando precisamos de apoio, principalmente familiar e descobrimos que nem sempre podemos contar com as pessoas que amamos, aconteceu algo parecido comigo recentemente, mas as vezes é até bom, pq vemos realmente as pessoas que estão do nosso lado.

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  14. Fiquei muito feliz com essa continuação, é algo muito legal para nòs que ficamos fãs do livro e da autora. Ainda não li essa continuação, mas esta nos meus planos. Por enquanto fico somente nas resenhas.

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