Vox | Christina Dalcher

Título Original: Vox #1
Autora: Christina Dalcher
Tradução: Alves Calado
Ano: 2018
Editora: Arqueiro
Páginas: 320
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Vox, da autora Christina Dalcher, é um alerta. Algo muito semelhante ao que autores já renomados, como Margaret Atwood e George Orwell, fizeram há anos, mas que hoje cai como uma luva na realidade política que vivemos.

Fazem poucos anos desde que um governo autoritário, religioso e conservador tomou o poder dos EUA. Com isso, as primeiras pessoas a perderem seus direitos foram as mulheres. Neste governo as mulheres só podem falar 100 palavras por dia, contadas através de um aparelho que fica localizo em seus pulsos. Caso a mulher exceda sua cota diária, a mesma é punida com uma descarga elétrica, que vai aumentando a cada nova punição. Além das mulheres, aqueles considerados não "puros" e que não seguem os fundamentos desse novo governo sofrem consequências duras, chegando até a campos de concentração.

Desde que isso aconteceu, a linguista, Dra. Jean McClellan, vem tentando lidar com a situação. Tem vezes que nada daquilo parece real, mas tudo se mostra esmagador quando ela percebe a própria filha sofrendo as primeiras consequências da censura. Impedidas de trabalhar, neste governo as mulheres tem apenas um propósito, servir o lar. Porém, a nova realidade de Jean parece lhe dar sorrir quando sua pesquisa a respeito do funcionamento do cérebro, considerada promissora antes do novo poder, parece ganhar atenção do presidente. Sendo assim, Jean usará desta oportunidade para ganhar mais voz, lutar por sua filha e todas as mulheres silenciadas.


É um choque perturbador quando percebemos que a história de Jean, de uma personagem fictícia, tem uma certa proximidade com a nossa própria realidade. A distopia criada por Christina Dalcher é algo possível de acontecer na não-ficção, de forma rápida, assim como no livro. Perceber isso ao longo da leitura é preocupante e é nisso que a história de Vox tem êxito, por conseguir alertar, dosando a tensão na construção de todo o livro.

A narrativa é feita em primeira pessoa por Jean, que alterna o presente sufocante com os flashbacks de uma época (não tão distante assim) em que ela era livre e possuía direitos básicos, como ler e escrever. Os capítulos são curtos, o que eu adoro, pois, a leitura flui muito bem. Mas a cada episódio é impossível não perceber o quanto esta ferramenta usada pela autora traz à tona sentimentos de como o presente de Jean é angustiante e como ela está completamente a mercê de tudo isso.

É impossível não se sentir incomodado, não sentir o sofrimento de Jean como mulher e como mãe ao ver seus filhos se rendendo a um sistema retrógrado. Seja através dos atos da pequena Sonia, que prefere ficar o dia todo calada em troca de um doce, ou através do seu filho mais velho Steven, que vem sendo doutrinado sem que ela possa fazer nada. Também é interessante ter a perspectiva de Patrick, marido de Jean, que mesmo apresentando um certo apoio a esposa e uma certa repulsa ao novo sistema, se mostra apático, afinal, nada daquilo o atinge de forma direta. 

Entretanto, infelizmente, da metade para o fim do livro o plot foi se desenvolvendo para uma direção que acabou me desapontando. Em determinado momento da história, Jean passa a estar liberta da sua prisão, então, toda aquela atmosfera claustrofóbica e tensa de falar o mínimo possível quando se quer muito gritar, passa e a história toma um novo rumo. A trama passa a decorrer num viés muito mais científico do que político propriamente dito e o que era interessante para mim no começo da história acaba ficando de lado.



Existe também um romance que eu achei desnecessário e que acaba roubando a importância do plot principal. O desfecho acaba decepcionando quando percebi que personagens secundários surgiram e sumiram sem grandes explicações ou quando alguns acontecimentos me pareceram extremamente convenientes. Mas talvez o grande problema tenha sido a resolução de toda esta realidade, tratada de uma forma muito elitizada pela autora. Se lá no começo o leitor tem certeza que a realidade de Vox pode existir dentro da nossa, o final é completamente fantasioso, o que me fez terminar a leitura com uma certa desesperança. O povo jamais poderia recorrer a esta solução. 

De qualquer maneira, o livro continua tendo sua importância. Como disse, cai como uma luva se analisarmos o governo que se instalou desde o dia primeiro em nosso país. Vox é o tipo de livro que traz discussões além da distopia instalada. Um exemplo disso é o fato de Jean sempre relembrar de sua ex-colega de quarto. Jackie sempre a alertou sobre o comportamento do governo em relação as mulheres, sempre a chamou para passeatas e sempre a convidou para que ela usasse a sua voz. Durante a leitura percebemos o quanto o fato de Jean não ter a escutado a incomoda, agora que já é tarde demais.

Apesar das minhas ressalvas, Vox é uma importante leitura, pois fala muito bem sobre temas como política, machismo, religião, feminismo, questões relacionadas a comunidade LGBTQ+ e o quanto é perigoso quando o conservadorismo cresce sobre as raízes do fanatismo. É uma distopia que alerta e apresenta uma história que envolve, que é inteligente e que prova a importância da linguagem, da comunicação e da voz, principalmente quando ainda podemos usa-la. Portanto, se há algo que possa dizer sobre o que esta leitura me ensinou é: não resista em levantar sua voz, use todas as palavras que puder contar.

12 comentários

  1. Esse livro está bem famoso mas ainda não tive oportunidade de ler.
    Acho bacana a proposta do livro em tratar de política e distopia e acho que a capa dele ficou bem de acordo com a proposta.

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  2. Oi, Joi
    Esse livro esta na minha lista desde seu lançamento, já perdi a conta de quantas resenhas eu li.
    A cada uma só vai confirmando que realmente preciso ler esse livro urgente.
    Não podemos nunca nos calar e deixar de lutar por algo que queremos, temos direitos que muitas vezes não são respeitados.
    Tirando as ressalvas sobre a trama os temas que a autora abordou , fazem valer a leitura.
    Espero conseguir ler nesse ano.
    Beijos

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  3. Ganhei este livro aqui no blog, mas ainda não chegou! Será com certeza, uma das minhas próximas leituras e não vejo a hora disso acontecer!!!
    Mesmo com algumas falhas que li não somente aqui,mas em outras resenhas, desse correr na parte final, desse sei lá, não desenvolver totalmente toda a questão, quero muito conhecer todos os personagens e dar voz a todos eles!
    Ainda mais com o cenário de retrocesso que estamos já vivendo neste começo de ano, ter voz vai ser essencial!!!
    Lerei!
    Beijo

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  4. Olá! Eita que esse livro está dando o que falar e eu é claro estou louca para ler. Adoro distopias e essa realmente acaba refletindo um pouco do que vem acontecendo na nossa sociedade (#medo), uma pena que você não tenha gostado muito de algumas passagens da história, ainda assim é um livro que parece que nos fará refletir muito sobre nosso papel na sociedade, e o que estamos fazendo para muda-la.

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  5. É um livro que chama atenção pelo conteúdo, difícil não nos colocarmos no lugar da personagem, só de imaginar da um desespero. A leitura é para ficarmos atentos ao que esta acontecendo a nossa volta. É uma pena que depois a leitura deixa a desejar, tinha tudo para ser uma grande historia, mas mesmo assim gostaria de ler.

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  6. Oi Joi.
    ADoro distopias, e depois que li a premissa desse livro, fiquei doida para ler esse livro.
    O mundo criado pela autora não parece tão longe da nossa realidade, o que é algo bem assustador.
    Que pena que do meio para o final o desenrolar da trama acabou te desagradando um pouco. É ruim quando personagens surgem e depois somem sem maiores explicações.
    Mesmo assim, ainda quero ler o livro e tirar minhas conclusões.
    Beijos

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  7. Desde que estou ciente sobre esse livro fico super ansioso, lendo resenhas, vendo os preços, doido pra ler. Christina Dalcher parece construir uma história incrível, um cenário que realmente está cada vez mais perto de nós, ter sua voz reduzida e controlada por 100 palavras deve ser perturbador. Entendo as ressalvas e temo pelo mesmo, mas vou arriscar pelo quão incrível parece ser.

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  8. Oi Joi,
    Ah, eu estou assistindo "O conto da Aia", e poderia fazer várias comparações com muita coisa que citou do livro.
    É sem dúvidas muito difícil, principalmente como mulher, acompanhar um enredo desses, e pior, imaginar que muitos homens adorariam ver isso acontecer, mas sabe, acho que é uma leitura obrigatória para todos, mostra bem o lado podre do ser humano, e também, que em qualquer civilização, a corrupção existe, e dificilmente será extinta.
    Só uma coisa, em um universo desses eu morreria de choques kkk
    Espero ler em breve.
    Beijos

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  9. Joi!
    Achei esse livro bem parecido com a situação atualdo nosso país em relação a política.temos de delegar a outros que nem sabemos quem é ou o que pensa, para governar nosso país e esperarmos as consequÊncias do que virá, por causa de nossas escolhas.
    Deve ser um livro angustiante e até certo ponto, interessante.
    Do jeito que gosto de falar, 100 palavras por dia me deixariam louca...kkk
    cheirinhos
    Rudy

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  10. Achei a sinopse impactante e interessante o fato de ser em primeira pessoa, acho que deve ter deixado a leitura mas tensa, porém fiquei com certo receio com o final, porque a história pelo jeito deixa muita coisa em aberto e isso me dá certa agonia

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  11. Oi Joi,
    Vox é um dos livros mais comentados dos últimos tempos e com a promessa de uma história tão importante fica difícil não se interessar pelo livro. Em um mundo machista a voz é um dos poucos recursos que nós mulheres temos e que ainda podemos usar para nos impor e nos defender, então nem imagino como deve ser ter isso limitado a poucas palavras diárias. A sinopse de Vox me assusta por se apresentar de forma tão real, principalmente se compararmos a algumas coisas que vivenciamos na sociedade. Consigo entender porque a primeira parte do livro tem mais impacto e envolve mais o leitor, pois dá para se colocar no lugar da protagonista e tentar imaginar como seria vivenciar seus medos, angustias e revoltas. Acho que essa história tem muitas questões importantes a serem discutidas, mas talvez a autora devesse ter dedicado um pouco mais de páginas para o desenvolvimento da luta contra o governo e nas soluções para os problemas, deixar tudo com a mesma realidade que a premissa nos dá. Esse é um livro que poderia ter mais de uma protagonista, poderia ter a visão de outras mulheres, pois nem todas irão agir e pensar da mesma maneira perante uma situação como esta. Ainda assim é um livro que anseio para ler.

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