Resenha: Quando eu parti

Título Original: Leave me
Autora: Gayle Forman
Ano: 2017
Editora: Record
Páginas: 308
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Quando soube que Gayle Forman viria para Bienal do Livro Rio desse ano, eu resolvi que era hora de conhecer mais sobre ela e seus livros. Pesquisando para o Psicose da Nina, descobri que a autora é fã dos mesmos clássicos do cinema adolescente dos anos 1980 que eu. Entre as opções de livros da autora que pesquisei na internet, eu optei pelo seu último lançamento Quando eu parti, publicado pela Editora Record. Conhecida mundialmente por Se eu ficar, que foi adaptado para as telonas, eu esperava encontrar um romance adolescente. Acabei me surpreendendo - isso que dá não ler a sinopse do livro. Mas na maior parte das vezes são ótimas surpresas que essa minha negligência oferece.

Com 45 anos, Maribeth vive entre sua carreira de editora em uma revista feminina, ser mãe de gêmeos de 4 anos, cuidar da casa e do marido omisso. Ainda também é preciso lidar com uma amizade fragilizada com uma amiga que agora era sua chefe. Não é à toa que diante de tanta coisa para resolver e lidar, Maribeth acaba sofrendo um ataque cardíaco prematuramente. Mesmo após o susto e a surpresa de não ter enxergado os sinais que seu corpo emitia, ela só conseguia pensar no que seria de sua família sem ela, se ela tivesse morrido.

Maribeth precisava se recuperar totalmente, mas era preciso tempo e ajuda - que não estava recebendo. Em meio a todo o pavor que sentiu ao ver que não podia contar com as pessoas próximas de sua vida, Maribeth resolve fugir. Deixou tudo para traz: a carreira, o marido e os filhos. Mas não seria para sempre, ela só precisava ficar bem, para eles.

"Aquelas primeiras pontadas no peito, porém, pareceram mais aflição que dor, e ela não pensou imediatamente em coração." 



Longe de toda aquela pressão que sua rotina da vida impunha, Maribeth finalmente começou a se enxergar como mulher, além de mãe, esposa e editora. E nesse período de recuperação, tanto da cirurgia como do seu "eu", ela resolve ir atrás do seu passado para poder seguir em frente. No caminho, ela faz novos amigos e encontra respostas para enfrentar os seus medos.

Acredito que os leitores dos livros juvenis de Gayle Forman possam estranhar a nova proposta da autora. Os livros são para públicos completamente diferentes. Infelizmente, eu não li os outros para comparar e se não houvesse nenhuma informação na contracapa, eu provavelmente nunca saberia que esse é o primeiro livro de ficção adulta dela. Inclusive, eu fiquei curiosa para saber como foi construir uma personagem que tem mais a ver com ela, que também é mãe e tem quase a mesma idade.

Não sei se essa foi a intenção da autora, mas eu tive diferentes percepções ao longa da história e vejo isso como algo bom. Como o livro é em terceira pessoa, já achei, logo no começo, que Maribeth morreria no primeiro capítulo e ficaríamos naquele drama pesado de uma família lidando com a morte da matriarca. Talvez algo P.S. Eu Te amo, sabem? Não é o caso, apesar de também existir cartas na história. Em determinado momento achei que seria sobre o acúmulo das jornadas de trabalho das mulheres e seus maridos omissos. Não deixa de ser sobre isso também, porém, percebi que o livro é sobre olhar para dentro e perceber que todos nós temos problemas. Todos temos medos, mesmo que sejam de coisas diferentes.

"Agora ela estava em queda livre. E aquilo não a matou. Na verdade, ela começava a se perguntar se podia fazer o contrário. Toda aquela fixação como a queda... Talvez devesse prestar mais atenção na parte do livre."



O que me deixou mais emotiva nesse livro foi a questão do "ser mãe". Em nossa sociedade parece que a partir do momento que a mulher vira mãe, ela deixa de ser "humana" de certa forma. Ela precisa ser um exemplo para os filhos, além de cuidar deles e de todo o resto. E acho que essa uma palavra interessante, tudo vira resto, inclusive o tempo para cuidar de si mesma. 

Eu gostei muito da escrita da Gayle Forman e apesar de apresentar a história com uma narrativa em terceira pessoa, eu consegui sentir todas as emoções dos personagens, tornando-os reais e próximos para mim. Não é um dramalhão que no final você fica olhando para o vazio querendo morrer, pelo contrário, é um romance que faz você pensar e questionar. Ele abre um leque de temas que eu poderia ficar horas aqui debatendo sobre as omissões, ações e decisões dos personagens. E apesar de tudo isso, não é livro denso, pesado e cansativo. Eu li Quando eu parti em três dias e acho que teria lido em menos tempo se tivesse me dedicado mais.
 
Confira outras obras da autora:

27 comentários

  1. Nunca li nada da autora e gostaria agora muito de ler esse livro!
    Não leio muito ficção adulto, pois ainda estou na fase do romance adulto ou jovem adulto!
    Esse livro deve falar sobre muita coisa e nos ensinar várias coisas também!
    Lerei em breve, ainda não tinha lido nenhum resenha desse livro, pensava que era um romance jovem, porém me surpreendi ao saber que é mais maduro.

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    1. Acho que muitos leitores podem cair nesse erro de achar que a história é juvenil, já que a autora é mais conhecida por esses gêneros. Mas o livro é muito bom para até a gente como filhas repensar e ter um outro olhar para essas mulheres incríveis que nos trouxeram ao mundo <3

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  2. Oi Nina,
    Vou te dizer que esta sinopse me pegou de surpresa. Por já conhecer a escrita da autora, também estava esperando uma história com uma protagonista mais jovem. As cobranças da sociedade em cima da mulher já são grandes, mas quando ela se torna mãe é bem maior. Acho que Gayle Forman foi muito feliz na construção Maribeth, uma personagem com uma vida comum, mas que passará por desafios reais e de grande importância para seu crescimento pessoal. Para mim o livro trás um grande questionamento: colocar os outros em primeiro lugar ou a si mesmo? Não tenho dúvidas de que vou querer ler este livro e espero gostar assim como os outros que já li da autora.

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    1. Gi, o livro é ótimo. E você captou bem a essência dele. Tenho certeza que vai amar também :)

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  3. Já li Se eu ficar e Para onde ela foi e gostei bastante. Este ainda não havia ouvido falar.
    Gostei dela, mas não anto assim. Talvez por ter lido livros mais jovens, e este parece fujir dos que li!

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    1. Acho que vale a pena tentar mais uma vez ler, Tália. E depois me conta como foi a sua experiência :)

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  4. Oi, tudo bem?
    Não conheço a escrita da autora, mas sempre leio resenhas e comentários positivos.
    Fiquei interessada nesse livro, pois parece uma leitura que traz uma boa reflexão e como você mesma falou, não é denso e cansativo. Gostaria de ler.
    A resenha ficou excelente, muito bem desenvolvida.
    Obrigada pela indicação.
    Beijos.

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  5. Ainda não li nada da Gayle Forman e fiquei interessada nesse livro!
    Obrigada pela dica.
    :)

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  6. O único livro que eu li dessa autora é Se eu ficar, mas confesso que não gostei e perdi a vontade de ler os outros livros dela. Mas esse livro parece ser bem diferente, a história dele é bem interessante, e parece ser bem envolvente. Fiquei com bastante vontade de ler esse livro!

    Beijos!

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  7. Não cheguei a ler nenhum dos livros da Gayle Forman mais conheço os seus livros, mais sempre achei que os livros dela é sempre com drama demais então nunca tive interesse neles.
    Então apesar de já te visto esse livro nunca parei pra ler nem a sinopse dele por acha que seria do mesmo gênero dos outros dela, o que depois de ler sua resenha vi que não é o caso.
    Não tenho certeza ainda sobre ele principalmente por se uma narrativa em terceira pessoa ~não gosto muito.
    Mais gostaria de saber o final desse livrinho, se ela conseguiu "se achar" depois de tudo.

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    1. Eu deixei rolar umas lágrimas e foi bem agonizante no começo por ver que ela estava completamente sobrecarregada. E mesmo em terceira pessoa, a escrita está muito envolvente. Se você ler, depois me diz o que achou!

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  8. Li Se eu ficar e a sequência mas não gostei então fiquei com receio de ler outro livro da autora. Embora esse parece ser diferente e aborda um tema que acontece com muitas mulheres quando tem seus filhos e não sobra tempo para elas. Confesso que as vezes da vontade de jogar tudo para o alto e sair correndo kk. Então entendo a personagem.

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    1. Exatamente, Maria. Talvez você se identifique bastante coma história :)

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  9. Nina!
    Apesar de gostar muito da autora, também não entendi o porque dela colocar uma protagonista que desaparece, sem motivo aparente apesar das pressões, e abandona principalmente os filhos. Não entra na minha cabeça uma mãe abandonar o filho seja lá por qual motivo...
    A questão da maternidade é muito importante. Acredito que a maioria das mulheres tem o desejo de ser mãe...
    "...Aceite com sabedoria o fato de que o caminho está cheio de contradições. Há momentos de alegria e desespero, confiança e falta de fé, mas vale a pena seguir adiante..."(Paulo Coelho)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  10. Eu nunca li nada da autora, mas confesso que não tinha muita vontade de ler nenhum livro dela. Mas fiquei bem mais interessada nesse livro, exatamente por ser mais diferente dos outros livros dela. Achei a trama dele muito interessante, e gostei de saber que ele é mais adulto que os outros livros. Essa história parece ser bem emocionante e muito boa. Adorei a dica, e já coloquei o livro na minha lista =)
    Bjss ^^

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  11. Ola!
    Não li nada da autora mais tenho uma certa curiosidade para conhecer a escrita dela. Gostei do livro, tem uma história bastante reflexiva e envolvente, te faz pensar sobre tudo e também sobre a personagem por ter feito isso. Com certeza já está em minha lista de leitura.

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  12. Sempre vejo muitos elogios a respeito desta obra, mas infelizmente ainda não tive oportunidade de lê-lo, muito menos de adquirir. Vejo que a trama e muito bem descrita, envolvente, cativante, onde os personagens são bem descritos, com uma estória reflexiva, e envolvente, tenho altas expectativas a respeito desta leitura.

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  13. Oi, Nina!!
    Primeiro parabéns pela resenha que ficou maravilhosa, devo confessar que ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro da Gayle Forman, pois é, já li várias resenhas sobre suas obras mais nunca parei para ler algo dela, e para falar bem a verdade acho que tenho um livro na minha estante e ainda não li.
    Bjoss

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  14. Conheço a escrita da autora, mas não sabia sobre esse voltado para lado adulto.
    Acho legal ela conseguir tentar mostrar todos várias face da mulher, como mãe, esposa e a parte trabalhadora ainda.
    Bem legal não ter sido um dramalhão, e ainda trazer uma boa reflexão.
    gostei da dica.

    beijinhos
    She is a Bookaholic

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  15. Oi.
    Eu normalmente não leio obras desse gênero porque sei que irei despedaçar, mas em contra partida, estou encantada com essa premissa e o fator mãe foi o que mais me chamou a atenção, o que você falou é verdade, quando uma mulher se torna mãe parece que vive para os filhos e na maioria das vezes esquece de si própria.
    Bjs.

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  16. Oi Nina,
    Já li os tão conhecidos livros Se Eu Ficar e Para onde ela foi e me apaixonei pela escrita da Gayle Formam, agora quero ler os demais livros da autora, e Quando eu partir é um deles.
    Acabei me surpreendendo um pouco com essa resenha, pois não li a sinopse, e confesso que esperava algo totalmente diferente quando vi esse título, algo no estilo dos outros livros, com uma trama juvenil. Mas adorei essa trama adulta e mais madura, a trajetória de autoconhecimento da Maribeth vai render muitas reflexões e lições para a vida.
    Adoro livros que tratam de temas bem reais e a Gayle cria histórias com tramas de uma forma muito envolvente e intensa.
    Beijos

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  17. Oi Nina,
    Conheço o livro Se eu Ficar da autora, apenas, mas mesmo assim não li. Não é muito do meu gosto esse tipo de leitura, embora as vezes, quando há uma resenha positiva, eu acabe lendo e fico com lágrimas nos olhos hahahaha

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  18. Olá Nina ;)
    Já li Se Eu Ficar da autora, e gosto muito tanto do livro como do filme, mas nunca me interessei em ler outra coisa da autora.
    Gostei que ela lançou esse livro para alcançar um público diferente, ela foi esperta! E gosto de livros de ficção mais adulta, esse estilo dela me lembrou o da Liane Moriarty, não sei se estou enganada.
    A personagem parece bem real e humana, e acho que vou gostar dela sim. Ela parece trazer novos ensinamentos para o leitor... então que bom que ela não morre no começo haha
    Também me incomoda essa narração em 3 pessoa, mas como você gostou e não prejudicou a leitura, com fiquei interessada em ler!
    Bjos

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  19. Oi, tudo bom?
    Eu ainda não li nenhum livro da autora, mas tenho curiosidade, eu já vi o filem Se eu ficar e curti, Quando eu partir parece ser muito bom, e um livro que nos traze reflexões, ainda mais se tratando de "mãe" como você mesmo disse, imagino como deve ser a vida da nossa protagonista, espero ter a oportunidade de ler o livro.
    Beijos *-*

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  20. Gayle sempre me surpreende com suas narrativas e sua sensibilidade. Ainda não li "Quando Eu Parti", mas com toda certeza, ele está entre os primeiros da fila. O último livro que li dela foi o "Eu Estive Aqui", e fui completamente tocada. Comecei a leitura sem esperar nada do livro e me surpreendi da melhor maneira. É incrível como ela consegue que nós, leitores, sintamos tudo o que os personagens sentem.

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