Resenha: Demônio ou Anjo

Título Original: Death of the Demon - Hanne Wilhelmsen #3
Autora: Anne Holt
Ano: 2017
Editora: Fundamento
Páginas: 264
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Demônio ou Anjo conta a história de um orfanato de crianças abandonas ou tiradas de suas famílias. Pequeno, é controlado por poucas pessoas e a relação delas com as crianças é tranquila, até a chegada de um garoto que possui um temperamento incomum.

Olav tem apenas 12 anos, mas uma força enorme. Se assusta com coisas bobas e se irrita com acontecimentos banais, que em crianças normais até provocariam risos. Ele foi tirado de sua mãe pelo serviço social norueguês, que julgava que ela não tratava seu filho de maneira correta. Seu comportamento começa a não ser bem visto pela diretora do local, Agnes, que passa a puni-lo de maneira veemente e o choque entre os dois é quase que diário, fazendo, inclusive, Agnes impedir que a mãe de Olav vá visita-lo, como pena para o garoto. Da mesma maneira que é perseguido pela diretora do local, Olav, tem um carinho especial e reciproco do pessoal responsável diretamente pelo cuidado das crianças. Maren defende ele de sua chefe e o trata como se fosse sua mãe.  

Certo dia, Agnes aparece morta em sua sala, com uma faca cravada em seu corpo e Olav não é mais encontrado no orfanato. Seria ele capaz de matar a mulher que lhe causava problemas? Qual seria a motivação dele? Ele teria força suficiente para violar o corpo da diretora daquela maneira? Poderia uma criança tão jovem ter a mente tão perturbada e perversa?  São essas as perguntas que você busca responder em Demônio ou Anjo.

"Ela não era santa. Ela não conhecia nada mais idiota do que a cara de "eu gosto tanto de crianças…" Crianças eram como adultos: algumas encantadoras, outras fascinantes, mas havia as desprezíveis."


Anne Holt é uma escritora norueguesa, escandinava assim como Jo Nesbo, e esse tipo de literatura nórdica tende a ser muito diferente da que estamos acostumados a ler. Muda-se completamente a geografia do lugar, com um clima completamente diferente, com perfis de personagens distintos e com um terror muito acentuado em sua maioria. Holt volta as livrarias do Brasil, a já editora lançou quatro livros da autora. São eles, 1222 em 2012, Deusa Cega em 2013 e em 2017 Números de Azar e Demônio ou Anjo, todos dentro do cenário da detetive Hanne Wilhelmsen, designada para investigar o assassinato de Agnes e encontrar o garoto sumido.

Em Demônio ou Anjo, não existe tão acintosamente o estilo nórdico de livros, o terror não é tão presente, assim como as cenas de ação são bem menos sangrentas do que nos livros de Jo Nesbo por exemplo. A escrita é limpa, direta e sem muita descrição dos momentos de ação, privilegiando mais a parte investigativa do assunto principal.

O livro é escrito em terceira pessoa, apenas alguns capítulos, nos quais são apresentadas cartas da mãe de Olav, são escritos como se ela descrevesse algo. Achei muito boa está diferenciação que a autora fez entre as pessoas do orfanato, a mãe de Olav e os responsáveis pelas investigações, respeitando muito bem a ótica alterada que cada um tinha do problema. Um exemplo disso é a mãe de Olav, que teoricamente sabe do que ele é capaz por conhecer seus problemas desde pequeno. As pessoas no orfanato têm os seus próprios suspeitos, já que sabem de coisas que a polícia não sabe e já os detetives não fazem ideia do temperamento de Olav e no começo nem dão importância para o seu sumiço.



Esse tipo de cenário é muito difícil de ser respeitado em livros escritos em terceira pessoa e sempre deixam furos do tipo - como o detetive saberia disso se não participou de tal situação? - ou algum personagem da com a língua nos dentes por um motivo completamente forçado. O mais comum de acontecer é o livro ser escrito em primeira pessoa, com vários personagens narrando a sua própria história. Achei Holt diferenciada e com uma grande qualidade em fazer esse trabalho.

Como um bom livro nórdico ele tem um final sangrento, muitas mortes e surpreende, principalmente pela maneira com a qual ela construiu a estrutura do texto, fazendo vários personagens terem motivos para assassinar a diretora e conseguindo plantar na cabeça do leitor diversas dúvidas. O final em si não é dos mais inesperados, mas a maneira como ele acontece, como coisas acabam ficando obscuras e toda a resolução do problema, deixam a história muito interessante.

Esse livro foi lançado originalmente na Noruega em 1995, chegando no Brasil apenas no fim do ano passado, creio que justamente pelo motivo que já falei anteriormente, a diferença do estilo de literatura. A série original da detetive Wilhelmsen teve seu primeiro volume lançado na Noruega em 1993, com o livro 1222, que chegou ao Brasil em 2012, também lançado pela Editora Fundamento, fiquei sem entender por que exatamente levou quatro anos para a continuação sair por aqui, visto que os livros são muito bons.



Demônio ou Anjo não foi o primeiro livro que li da autora, tive uma experiência estranha com Números de Azar, o qual eu não tinha gostado, porém depois de ler o livro sobre a história de Olav, passei a entender mais o padrão de escrita de Holt, me familiarizei mais com a quantidade de personagens secundários que ela insere na trama, além da maneira como ela trata a história principal. O que me incomodou muito na minha leitura anterior foi o fato de ser inserido muitos assassinatos e investigações deixando de lado o assunto principal do livro, mas isso está muito ligado ao fato de que ela não força descobertas mirabolantes de seus personagens nem se preocupa em dar um fim rápido a história.

Outro ponto positivo para Demônio ou Anjo é a quantidade de personagens bem construídos na trama, com sua importância bem significativa e a preocupação de Anne em dar um fim para cada pessoa que foi apresentada durante a obra. Ela não esquece de ninguém e todos os finais são muito plausíveis e coerentes.

Demônio ou Anjo é um livro com mistério, uma trama intrigante, com muitas mortes e reviravoltas, bem escrito, bem finalizado, com um final muito surpreendente, prende a atenção do início ao fim, mostrando que Anne Holt deveria ter chegado antes no Brasil, já que essa série começou a ser escrita no século passado, literalmente. Quero mais literatura norueguesa, nórdica e escandinava no Brasil, é um gênero diferente e que eu aprecio muito. 

E você, já leu algum livro de mistério/ação vindo do norte da Europa? Como foi sua experiência?

8 comentários

  1. Oi, Bruno.

    Bom, mesmo o Olav sendo movido pelo ódio, alguém pode ter usado o garoto como base e escudo para cometer essa atrocidade.

    Seria muito óbvio se ele fosse o assassino.

    Porém, tudo isso faz com que se forme um clima de mistério a mais.

    E eu ainda não tive a experiência de ler nenhum livro vindo da Europa.

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  2. Não tenho muita intimidade com a literatura nórdica não,apesar de apreciar demais o estilo, tanto na literatura quanto no cinema!
    Ainda não pude ler nada da autora, mas já gostei de cara do título e capa do livro e lendo a resenha fiquei aqui me questionando sobre o enredo trazer uma criança, que já tem quase sempre a aura de um anjo,mas que também pode ter seu lado ruim mais aflorado.
    Isso é assustador!rs
    Como não conhecia o livro, vai para a lista de desejados com certeza!
    Beijo

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  3. Já li dezenas de livros nórdicos, e para mim, infelizmente, Anne Holt foi o mais fraco dentre todos que já li.

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  4. Olá Bruno!
    Primeira resenha que leio sobre esse livro, na vdd eu não conhecia ainda acredita?
    O enredo parece bom, curto mto o gênero, a leitura parece ser bem fluída tbm, espero ler em breve. Vou add aos desejados...
    Bjs!

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  5. Olá Bruno.
    Prefiro imaginar que não tenha sido o garoto a cometer tal ato brutal, mas como já vi na ficção e em estudos reais, por mais que não aceitamos, crianças podem sim ter pensamentos não condizentes com a "inocência" deles!
    Não conhecia a autora, na realidade nem seus livros anteriores, mas esse despertou minha curiosidade por fugir dos padrões que os livros do gênero mantém, e principalmente por guiar o leitor em uma trilha de terror sem precisar colocar cenas (como você mesmo citou) parecidas com a do autor Jo Nesbo, algo que eu até gosto, mas ando procurando narrativas diferenciadas!
    Beijos

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  6. A literatura nórdica realmente se diferencia bastante da americana especialmente no gênero Thriller.
    Já li Nesbo e em alguns momentos a leitura foi angustiante e tensa.
    Acredito que a escrita de Holt siga essa mesma linha.
    Me interessei muito por esse livro.

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  7. Oi Bruno, nunca li nenhum livro norueguês, nem Jo Nesbo eu nunca li, então não sei o que pensar deste tipo de escrita. Mas acredito que livros sangrentos não façam meu estilo, ainda mais envolvendo uma criança. Achei meio creepy! Espero de verdade que não tenha sido o Olav que matou ela... hahaha

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  8. Fiquei bem curiosa com o livro essa literatura pra mim é bem diferente e como adoro mistério preciso ler mesmo rs. Fiquei muito intrigada com essa morte, me perguntando se foi mesmo o garoto, deve ser uma trama que envolve e deixa o leitor na ansiedade pelo que aconteceu, parece que foi tudo muito bem elaborado.

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