Resenha: H. P. Lovecraft - Contos: Volume II

Título Original: H. P. Lovecraft - Contos: Volume II
Autor: H. P. Lovecraft
Ano: 2018
Editora: Martin Claret
Páginas: 144

Neste segundo volume, da nova edição dos contos do autor H. P. Lovecraft selecionada pela Martin Claret, nós teremos contato com mais nove trabalhos do autor. Esta coleção de contos figuram o chamado Ciclo dos Sonhos, mas afinal, o que seria isso?

Conforme Daniel I, Dutra, Doutor em Literatura Comparada e autor de O Horror Cósmico, que dá vida ao prólogo desta edição. H. P. Lovecraft recebeu muita influência de Lorde Dunsany, escritor e duque irlandês falecido em 1957. Suas obras influenciaram, o que são hoje, grandes autores da literatura mundial, como Tolkien, Neil Gaiman, entre outros. Após conhecer as obras do autor, Lovecraft passou a admira-lo, ele o incentivou tanto ao ponto de Lovecraft conseguir encontrar sua própria voz narrativa. 

Se dá o nome de Ciclo dos Sonhos, aqueles contos que se passam no cenário da Terra dos Sonhos, onde o protagonista tem uma experiência onírica, classificação ainda em discussão entre estudiosos e críticos do autor, mas o fato é que este termo popular acabou sendo um meio de separar um grupo de histórias escritas entre 1919 e 1921, que de uma forma ou outra, possam estar interligadas dentro do universo lovecraftiano.



Após isso, Lovecraft deu início ao seu próprio universo, a contos que viriam a ser conhecidos hoje em dia de Mitos de Cthulhu. Porém, antes disso, tendo como enfoque os contos que compõem esta edição, Lovecraft conseguiu produzir algumas de suas melhores obras. Dentre elas, algumas presentes nesta edição da Martin Claret, como CelephaïsA Busca de Iranon, A Nau Branca, A Maldição que Atingiu Sarnath, Os Gatos de Ulthar, Os Outros Deuses, Hipnos, A Chave de Prata e por fim, A Estranha Casa Alta na Névoa.

Em comum nestas obras conheceremos um mundo, uma dimensão real e paralela a nossa, que pode ser acessada através dos sonhos. Muitos desses contos, originaram-se através de sonhos e pesadelos que o próprio autor vivenciou e este lugar ao mesmo tempo que pode ser lindo e repleto de lugares fantásticos, também pode ser igualmente perigoso e perturbador. 

É com Celephaïs que Lovecraft introduz o leitor a esta dimensão, nos apresentando um homem solitário que prefere a sua cidade criada no mundo dos sonhos, a Celephaïs, lugar onde é devidamente respeitado, ao mundo real. Dentre os destaques da obra esta A Nau Branca, conto onde um isolado zelador de farol recebe o convite de embarcar na misteriosa embarcação rumo a uma grande aventura. A Maldição que Atingiu Sarnath demonstra muito bem o quanto o humano se auto intitula como os deuses do universo, a ponta de desafiar criaturas mais antigas do que a própria Terra, mas que parecem não estarem prontos para a retaliação.



Em A Chave de Prata temos nosso primeiro contato com Randolph Carter - álter ego de H. P. Lovecraft - que depois de algumas experiências com religião e ciência, acabou perdendo seu acesso ao mundo dos sonhos. Até que o mesmo, reencontra a chave que o levaria novamente até lá. Neste conto em especial, temos a jornada do personagem em busca do novo, algo fora de sua rotina e do igual. É em seu mundo ideal que Randolph se sente completo, útil e capaz. Sem dúvidas, se adentrarmos nas camadas desse conto, encontraremos diversas vertentes de interpretação para tal. Aqui, o mundo dos sonhos poderá ser para você seus objetivos, algo que tanto almeja, a atividade que tanto sonha em exercer, etc. Eu achei simplesmente sensacional este conto e durante horas fiquei refletindo sobre ele.

Este conto em especial á a sequência de um outro, bastante conhecido do autor que também integra o Ciclo dos Sonhos, que, no meu entendimento, acabou faltando nesta edição, A Busca Onírica Por Kadath nos apresenta este personagem, que após A Chave de Prata, ainda ganha um outro conto, chamado Através dos Portões da Chave Prata, este, acredito eu, ainda não traduzido aqui no Brasil.

"[...] não poderia deixar de ver como são superficiais, volúveis e insignificantes todas as aspirações humanas e o quão inutilmente nossos impulsos reais contrastam com esses ideais pomposos que professamos possuir. Então, tinha que recorrer ao educado sorriso que o haviam ensinado a usar contra a extravagância e artificialidade dos sonhos, pois via que a vida cotidiana de nosso mundo é igualmente extravagante e artificial e muito menos digna de respeito por causa de sua escassa beleza e tola relutância em admitir a própria falta de razão e propósito."

Esta coletânea posiciona o terror de Lovecraft a algo mais mítico, que também transmite um certo medo do desconhecido e sobre as possibilidades de um mundo fantástico e onírico, mas que também nos abre uma porta para o inimaginável sem deixar de comentar entrelinhas a essência humana. Muitos dos contos carregam facetas mais dramáticas, sempre demonstrando protagonistas que buscam e querem muito algo. Nestas histórias que falarão sobre a solidão, a ganância, o medo e esta busca do mundo perfeito dos sonhos, Lovecraft faz um paralelo sobre o real e o imaginário e também faz críticas e reflexões sobre as necessidades obscuras do homem e a necessidade de comprovações sólidas para a nossa existência.



Enfim, são contos de terror que podem muito bem assombrar uma boa roda de histórias numa noite fria, como também pode perturbar as mentes mais questionadoras quando afrontadas pelas obras de H. P. Lovecraft. De um jeito ou de outro, a leitura é válida. São clássicos, é de um autor que modificou o cenário literário de muitas formas, que continua vivo e continuará influenciando diversos autores por muito tempo. 
Confira os outros livros desta coletânea:
1. H. P. Lovecraft - Contos: Volume I
2. H. P. Lovecraft - Contos: Volume II

13 comentários

  1. Como sou apaixonada por contos, namoro esta série de livros desde o primeiro lançamento.
    À princípio pelas capas, lindíssimas(aliás, o trabalho da Martin é maravilhoso),mas por trazer esse tipo de duas visões do desconhecido.
    Tanto pelo lado do imaginário, quanto pelo lado do ficar se remoendo muito tempo de se ter lido algum dos contos.
    Como se as letras fossem bem além do que estão ali, impressas no papel.
    Espero poder ler e ter os dois livros em breve.
    Beijo

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  2. Oi, Joi.

    De início, eu diria que esse cenário criado pelo autor, é capaz de transportar o leitor a também vivenciar e entender, através da leitura, o que esse cenário mágico é capaz de proporcionar.

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  3. Ainda não li nada do autor, mas tenho um livro dele que é diferente desse, quero ler logo para conhecer esses contos assombrosos. Gostei por ter uma dimensão paralela acho elas tão intrigante e ter a ver com sonhos que são bem misteriosos. É uma bela edição essa.

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    1. Existem várias edições e entre elas, alguns contos podem se repetir. É interessante dar uma olha no sumário ou apostar em livros da mesma coleção e editora, como neste caso. Beijos

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  4. Oi Joi!
    Não tinha conhecimento desses livros, eu amei as capas, leio mtos contos, curto mto, vou add aos desejados claro!
    Bjs!

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  5. Olá, aqui Lovecraft prova mais uma vez que sabe como transportar o leitor para dentro da obra, com contos tão bem construídos que o leitor não tem dificuldade alguma para projetá-los em sua mente. Ainda que inconscientemente, a obra também causa reflexões sobre a teoria dos sonhos. Beijos.

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  6. AINDA não li nada do Lovecraft. Estes volumes I e II devem ter contos em comum com aquela edição da Darkside, né? Ela é tão linda, que a vontade é de ter ela... hahaha
    Mas estas capas são lindas tb!

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    1. Se não me engano uns 4 se repetem. Houve a sorte que entre as 3 edições só isso!

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  7. Uau, que livro bonito!
    A única versão que cheguei a conhecer foi a que tem vários contos do Lovecraft com um pouco da sua biografia também, da Darkside. Recomendo também.

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  8. Oi Joi,
    Essa ideia do Ciclo dos Sonhos me agrada muito, pois uma das formas mais interessante de desenvolver um conto ou história é através de um sonho. E Lovecraft, certamente, soube fazer bom proveito disso. Para aqueles que não tenham a mente aberta, este tipo de história pode não agradar ou convencer, mas pelo pouco que sei do autor, nem todo leitor irá se identificar com sua escrita e isso independe de enredo. Fiquei ainda mais interessada em conhecer o autor por causa desse 2º volume e, claro, que esta linda edição contribui muito para isso.

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  9. Joi, fico muito confusa nesse universo "H. P. Lovecraft". Já vi livros com esse mesmo título em diferentes editoras. São livros a parte? Continuações? Realmente não entendo muito bem...
    Achei a edição belíssima! Quando vi pensei que era da DarkSide.
    São contos separados com o mesmo personagem, né?!

    Adoro terror, sendo assim, vou dar uma olhada nas resenhas anteriores.

    Abraço!

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    1. Samy, cada editora faz sua coletânea de contos do autor.
      Basicamente, a Martin Claret escolheu focar no primeiro volume os contos menos conhecido. E neste segundo volume apenas aqueles ligados ao Ciclo dos Sonhos. A edição da Darkside, por exemplo, focou em colocar a maioria dos contos mais conhecidos do autor. Enfim, vai da ideia da editora mesmo :)

      E não, cada conto conta a história de um personagem diferente, sem qualquer ligação direta com as outras histórias. Beijos

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  10. Não conhecia essa coletânea, mas achei o livro no todo bem interessantes até. O livro é lindo no quesito ilustração, eu não sou de ler terror, acho que até hoje eu li somente um livro desse gênero, porém não tenho problemas com isso. Gostei da resenha, mas não sei se leria os contos H. P. Lovecraft.

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