Resenha: O Muro

Título Original: The Wall
Autor: William Sutcliffe
Ano: 2017
Editora: Record
Páginas: 336
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Narrada em primeira pessoa por Joshua, um garotinho de 13 anos, a história começa mostrando um dia típico na vida de um garoto dessa idade brincando com um amigo. Até que a bola de Joshua vai parar em um terreno abandonado cercado por tapumes que escondem algo a mais do que uma simples obra. Joshua vive em uma região em guerra, órfão de pai, ele se mudou com a mãe e o padrasto para perto da fronteira da cidade onde existe um muro gigantesco. Ele nunca parou para pensar o que teria por trás daquela enorme construção que parece não ter fim. Mas isso muda quando ele acaba do outro lado do muro. 

Lá ele começa a ter noção de que existem pessoas muito diferentes dele, que falam outra língua, pessoas que parecem não gostar de quem ele é (ou seria de onde ele veio?). No entanto, também é onde ele descobre o valor da amizade. Aos poucos o jovem começa a questionar a existência do muro e percebe o quanto o padrasto é radical. Sendo assim, tudo o que Joshua passa a vivenciar precisa ser mantido em segredo e não será uma tarefa fácil honrar essa amizade proibida.

"Deitado na cama com a luz apagada, noite adentro, a mesma coisa continua, sem parar. O posto de controle. As jaulas. As armas. O arame farpado. O Muro. As filas de pessoas e seus rostos fechados e amargos. A menina."

Logo na capa encontramos referências a alguns best sellers, como A Menina que Roubava Livros e O Menino do Pijama Listrado, ambos livros, assim como O Muro que propõem contar histórias de amizades improváveis em períodos de guerra. Isso fez com que elevasse bastante a minha expectativa em relação ao livro, já que tive experiências maravilhosas com as outras leituras da mesma temática. Mas alguns pontos me incomodaram um pouco no livro escrito por William Sutcliffe.



O livro começa muito bem apresentando muita ação logo nos primeiros capítulos. Acompanhar como Joshua foi parar do outro lado do muro e como ele voltaria para casa tirou o meu fôlego. Mas em determinado ponto, a história ficou um pouco morna e pareceu trazer um aspecto mais "poético". Até é interessante acompanhar os questionamentos do menino, a aflição por tentar devolver um pouco do que foi feito por ele para os amigos do outro lado do muro, mas toda essa reflexão do personagem fez com que a história ficasse mais lenta e com poucos diálogos. Somos agraciados com alguns momentos tocantes e até alguns ataques extremistas do padrasto do personagem, mas só lá para as últimas cem páginas que a história volta a ter um ritmo melhor, para o meu gosto. 

Fiquei muito incomodada com a ignorância do personagem, não pelo fato dele ser alheio ao que estava acontecendo a sua volta, mas pelo fato dele não buscar as informações tendo diversas ferramentas para isso. Isso me deixou muito confusa ao longo da história. O autor coloca alguns elementos como celular e google, o que me faz crer que o Joshua poderia muito bem buscar certas informações, assim como poderia ter usado a luz do celular em uma situação. Por outro lado, a mente (o alter ego?) do personagem que narra a história tem um vocabulário super rebuscado. Eu não sei se foi uma questão de tradução ou se o autor não soube encarnar a mente de uma garoto de 13 anos. Não que uma criança de 13 anos não passa ter um vocabulário vasto, mas não parecia ser o caso do Joshua.



Um ponto que achei bastante interessante na construção da história é que Amarias, a cidade, é fictícia. Eu fiquei durante toda a leitura me questionando se realmente seria na Cisjordânia onde realmente existe um muro separando as pessoas que possuem etnias e religiões diferentes. Essa confusão mostra que o autor obteve sucesso em construir bem essa parte da história, trazendo elementos reais para a ficção e tornando a história bastante verossímil. 

William Sutcliffe é londrino e autor de seis livros. O Muro traz uma história bastante tocante e que apesar de fictícia retrata uma dura realidade em nosso mundo. Adorei saber que quinze por cento dos royalties da edição inglesa foram doados para uma instituição de caridade que constrói playgrounds em campos de refugiados palestinos. Pela Editora Record foram publicados no Brasil outras duas obras do autor: Eu, minha (quase) namorada e o guru dela e O que te faça feliz - ambos parecem trazer uma proposta bem diferente desse novo livro. 

No geral, eu acho que O Muro traz uma ideia muito boa, talvez não tão bem executada, mas que ainda assim vale a leitura. Como eu sempre digo em minhas resenhas, os livros são ótimos meios de conhecer outras realidades e trazer discussões importantes à tona. Afinal de contas, seria um muro a solução para os conflitos? (Encaminhando a pergunta para o Trump).

14 comentários

  1. AMEI A TUA ÚLTIMA FRASE, CÉUSSSS! <3

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  2. Olá,
    Fiquei bem impressionada com sua ultima pergunta, agora fiquei literalmente pensando nela, será realmente verdade isso?! uma pergunta no ar..
    Amei sua resenha, no começo dela pensei no livro O minino do pijama listrado porque sempre acontece em épocas de guerra e sempre acontece alguma amizade sincera, eu acho né..
    A trama do livro me encantou, me deixou curiosa sobre ele e claro e conhece essa historia sobre esse muro.!

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    1. Sim! O livro tem uma proposta bem parecida com o livro do John Boyne :)

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  3. Nina!
    Fico me perguntando como um autor tem um plot tão bom em um livro e não sabe desenvolvê-lo plenamente...
    O Muro parece um livro que traz uma realidade vivida pelos países que estão constantemente em guerra e sabe-se lá Deus para que...
    A divisão de castas feita pelo Muro e as diferenças em ambos os lados, traz grandes questionamentos.
    “A sabedoria dos homens é proporcional não à sua experiência mas à sua capacidade de adquirir experiência.” (George Bernard Shaw)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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    1. Nem me fale, Rudy! Criei bastante expectativa. O livro não é ruim, mas acho que podia ter sido melhor :(

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  4. Me lembrou do Menino do Pijama listrado o filme, pois ainda não li o livro. Concordo na parte do menino esta desinformado e ter meios de se informar acho que não convenceu muito isso, ainda mais por ele se questionar o porque do muro. Pena ter ficado morno já que começa com ação pois adoro quando tem ação rs.

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    1. Essa parte morna do livro é bem frustrante para quem curte mais ação. E sim, a proposta é bem parecida com a do Menino - o filme e o livro são bem parecidos. Beijos, Maria!

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  5. Oi.
    A premissa do livro é bem instigante, pois um tema forte e que faz refletir. Mas o desenvolvimento do enredo não me convenceu muito. Não sei se irei ler, mas caso venha a fazer, será mais por curiosidade. Pela capa e sinopse, esperava um aprofundamento maior no desenrolar e construção dos personagens.
    Muito boa sua resenha, bem construída.
    Beijos.

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    1. Obrigada Márcia. Também li pela curiosidade que o trabalho editorial desperta e até vale a pena. Mas eu esperava bem mais, sabe? Beijos <3

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  6. Olá!
    Esse tipo de livro raramente me interessa, por isso o livro tem que ser muito bom pra que eu leia. Esse em si, nao me convenceu, achei uma mistura dos dois livros citados e como não caí de amores por nenhum não pretendo ler esse.
    Bjs!

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    1. Parece que eles colocaram os nomes de grandes títulos na capa só para chamar leitor né? Isso cria uma expectativa alta, mas infelizmente a obra tem os seus "furos". Beijos, Iêda!

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  7. Como assim parece que com os meus dois livros preferidos?????? O MENINO DO PIJAMA LISTRADO E A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS ?? Eu a m o esses temas♡♡♡ Eu não sabia da existência desse livro :o obrigada demais por dar essa fica! Bjao

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  8. Oi Nina
    Eu adoro livros retratados nos tempos de guerra. Uma pena que este livro perdeu o ritmo do meio para o fim. é complicado quando o autor insere muita ação de início e depois diminui, acaba deixando mais cansativa a leitura.
    Beijos

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  9. Oi!
    Ainda não conhecia esse livro, mas achei bem interessante os temas tratados nesse livro e principalmente o modo que o autor nos trás esse assunto, o que parece tornar o livro bem reflexivo, porém acho que esses pontos colocados na resenha acaba tirando essa verossimilhança do livro, principalmente por o livro se contando por uma criança de treze anos, mas com um vocabulário mais rebuscado !!

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