Alias Grace | Crítica

Criado por:
Com: Sarah Gadon; Edward Holcroft; Rebecca Liddiard; Zachary Levi; Anna Paquin
Gênero: Drama; Suspense
Duração: 6 episódios – 45 minutos

The Handmaid’s Tale, série baseada em O Conto da Aia, obra literária de maior sucesso da autora canadense Margaret Atwood, transformou-se em fenômeno da crítica, conquistando diversos prêmios por onde passou, além do coração de espectadores espalhados pelos mais diversos pontos do globo. Devido a popularidade do seriado produzido pela Hulu, a Netflix, demonstra cada vez mais possuir um tino especial para perceber as tendências de mercado, ocupou-se em dar vida a mais uma história da autora, nos presenteando com a forte e delicada mini série Alias Grace.

Composta por apenas 6 episódios de aproximadamente 45 minutos, a mini série esconde dentro de sua premissa simples uma profundidade belamente costurada entre os eventos de uma narrativa que, com seus recortes temporais, retomada de situações passadas e segredos escondidos, pretende, para além de indagar o espectador acerca da inocência da bela e quieta protagonista, destacar a trajetória de uma mulher que, assim como tantas em situações semelhantes e adversas, sofreram a crueldade e tristeza de um mundo que fechava os olhos para sua existência como indivíduos.


Grace Marks (Sarah Gadon) deixou os verdes campos da Irlanda juntamente com sua família, direcionando-se para o Canadá em busca de melhores condições de vida. A viagem de navio, a precariedade das acomodações e a falta de cuidados necessários durante todo o trajeto acabam por tirar a vida de sua mãe, possibilitando que uma menina confusa e sozinha desembarque com o pai e irmãos em uma terra que não é nada semelhante ao lar que sempre conheceu. A atmosfera opressiva da casa, além do comportamento abusivo do pai, levam a protagonista a trabalhar como empregada doméstica para uma família rica que lhe proporcionaria abrigo e um novo contexto longe das dores do passado e de sua família.

Trabalhando na residência, Grace é notada por Nancy Montgomery (Anna Paquin), governanta de Thomas Kinnear, um tipo excêntrico cuja residência localiza-se em uma área distante do centro da cidade. Por ter perdido a antiga empregada, Nancy procura alguém para ajudá-la com os afazeres da casa, oferecendo uma ótima oportunidade para a jovem que aceita sem muito refletir. Não demora muito para que ela se acostume aos movimentos e horários dos moradores de sua nova residência, compreenda a personalidade única de cada um além de, por meio de pensamentos obscuros, perceba características inconstantes, injustas e cruéis em seus empregadores. É assim que descobrimos que Nancy e Thomas foram assassinados e Grace, condenada e encarcerada, estabelecendo-se, em meio as opiniões de toda a população, como uma assassina fria e calculista.

Nesse contexto surge o médico Simon Jordan, escolhido por um grupo de pessoas que acreditam na inocência de Grace e lutam por sua libertação. Em meio a lembranças, preconceitos e opiniões formadas, o jovem doutor deverá analisar o comportamento da protagonista, descobrir sua trajetória de vida e, em meio a verdades e mentiras, escrever um parecer acerca da sanidade mental da jovem que, muito mais do que vítima ou assassina, lembra um pouco as dores e alegrias de cada uma de nós.


Alias Grace foi o primeiro contato que tive com uma história de Margaret Atwood e, apesar de no momento em que me sento para escrever estas palavras, ter lido apenas uma de suas obras, me arrisco ao ressaltar a habilidade única da autora para criar protagonistas, personagens femininas que, mesmo não possuindo super poderes, não sendo capazes de enfrentar e mudar as regras de um jogo injusto ou ainda, sofrendo com a crueldade de um mundo em que mesmo os homens mais bondosos são capazes de esconder em si todo o contexto histórico que os criou, é maravilhosamente capaz de mostrar mulheres humanas, reais, fortes e que, como e quando podem, fazem o possível para conquistar uma vida melhor.

Essa história vai além do assassinato de dois personagens, vai além da possibilidade de nossa protagonista demonstrar-se inocente ou possivelmente insana, ela é um retrato de toda a opressão de uma época que, por mais que possam acreditar, ainda não chegou ao fim.

O poder desta narrativa está em não apresentar todas as situações e eventos abertamente, e sim, saber explorar as memórias e lembranças desconexas de uma personagem, além de flashes de eventos que, sabemos muito bem, são verdadeiros e somente confirmam os abusos sofridos por Grace, mas não apenas por ela, e sim por tantas outras mulheres que, construídas a sua própria maneira ao longo da série, ressaltam a infinidade de formas de se destruir uma vida.


Com ambientação e coloração calmas, claras e adoráveis, a série esconde da vista o sofrimento de uma legião. Tudo é impecável, as locações, fotografia, trilha sonora, mas principalmente, cores e iluminação, que, ao criarem cenas belas e graciosas, ressaltam como é fácil encobrir um contexto sombrio de crueldade e tristeza. 

Alias Grace é forte em sua delicadeza, é ao mesmo tempo graciosa e sombria. A mini série demonstra ao espectador um contexto que, embora não tenha vivenciado diretamente, é facilmente incorporado em seu imaginário, estabelecendo uma conexão preciosa para com a protagonista, fazendo com que a cada nova informação, a cada nova tristeza ou alegria, mais nos preocupemos com ela. Essa é uma história sobre a vida, sobre os fantasmas que carregamos, sobre opressão e abuso, sobre desafios e perseverança, mas também sobre um crime.

Para os apaixonados pela obra de Margaret Atwood, esta é uma indicação a ser levada em consideração, porém, para todas as mulheres que buscam compreender o passado com o intuito de lutar por um futuro, essa mini série - juntamente a tantas outras obras de autoras maravilhosas - é uma obrigação!

16 comentários


  1. Tália26 de março de 2018 11:15
    Eu achava que Alias Grace era no mesmo universo que The Handmaids'Tale. Mas é só da mesma autora né! Bom saber... hahaha
    Pq aí eu posso assistir! Iria esperar ler O conto da Aia. Então não tem necessidade esperar =D

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    1. Sim, sim. As duas histórias são da mesma autora, mas não tem nenhuma relação entre si !!! XD

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  2. Eu comecei a ler esse livro achando que seria uma história na vibe do último livro que ela lançou que foi adaptado para a TV mas eu me surpreendi com uma história maravilhosa que a autora conseguiu criar nesse livro delicioso de se ler o suspense foi maravilhoso e eu fiquei apaixonada pela adaptação que a Netflix conseguiu fazer

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    1. A Margaret Atwood já escreveu todo o tipo de histórias, algumas vão mais para o romance histórico, outras para a distopia e outras lembram uma boa ficção científica !!! Então dá para agradar todos os gostos !!! ^-^
      A Netflix realmente mandou bem nessa adaptação né ?! Adorei o resultado final !!!

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  3. Tenho o livro, só não consegui chegar nele ainda para ler, mas por tudo que li até hoje sobre a história, é maravilhoso!
    Comecei recentemente a ver a série Contos da Aia e estou adorando cada capítulo.
    É a opressão, é o medo, é o aprisionar. E ao mesmo tempo, o desejo por liberdade, por viver.
    Espero ler o livro primeiro e somente depois, ver esta nova série que com certeza, deve ser ótima.
    Beijo

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    1. Também comecei a assistir O Conto da Aia, assisti o primeiro capítulo e depois fui ler o livro, rsrsrs, agora estou no quarto capítulo da série. Mas confesso que até agora achei na média ... vamos ver como ela vai se desenrolar daqui para frente !!! XD

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  4. Oi!
    Ainda não li nada da autora, nem assisti as adaptações, mas estou louca por um tempinho livre para mudar isso. =)
    Gostei muito da resenha!
    =)

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    1. Se não conseguir começar pelos livros, tente dar uma olhada nas séries relacionadas aos livros da autora !!! Já é uma ótima introdução a obra dessa mulher incrível que cada vez me cativa mais !!!

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  5. Quero ler os livros da autora e assistir a série e essa mini série, são bem comentados, me interesso por essas historias onde mostra a monstruosidade que existe no ser humano, fico abismada e revoltada com tantas injustiças, ainda mais por saber que aconteceram e acontece de verdade.

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    1. Espero que tenha a chance de conferir a obra da autora !!! Vale muitíssimo a pena !!!

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  6. Oi,
    Eu ainda não consegui ler os livros da autora, apesar de querer muito. Mas assiste o seriado The Hand's mantale e estou com esse outro aqui na minha lista, acho que com certeza vale a pena se puder quero conferir de perto.
    Beijos
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa
    http://leiturakriativa.blogspot.com.br/

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    1. A Margaret Atwood finalmente está recebendo todo o destaque que merece né ?! Fico cada vez mais encantada com a mente dessa mulher !!!

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  7. Olá
    Eu já vi as duas séries inspiradas em livros da autora, mas não li nenhum dos livros ainda. Achei ambas as séries muito boas. Eu vi Alias Grace tem um tempão e ainda não sei o que pensar sobre a Grace.

    Vidas em Preto e Branco

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    1. Eu sou apaixonada pela Grace !!! Confesso que mesmo com minhas dúvidas com relação aos fatos dessa história, hehehe, estou completamente do lado dela !!! Só fiquei um pouco tristinha com o final dela ... mas nem tudo acontece como a gente espera né ?! XD

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  8. Oi!
    Estava ledo a resenha do livro dessa serie esses dias e tinha gostado muito, ão saia que a netfliz tinha feito uma mini série da serie, irei com certeza assistir pois a historia toda me deixou em curiosa para saber o que realmente aconteceu e se ela e inocente ou ão !!

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    1. Estou aqui torcendo para que tenha a chance de assistir Alias Grace !!! Vale muito, muito, muito a pena !!!
      Depois não esquece de me contar o que achou !!! ;)

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