Céu Sem Estrelas | Iris Figueiredo

Título Original: Céu Sem Estrelas
Autora: Iris Figueiredo
Ano: 2018
Editora: Seguinte
Páginas: 360
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Em o Céu Sem Estrelas, Cecília acabou de entrar na faculdade de Desenho Industrial na UFF e está trabalhando numa livraria, seu primeiro emprego depois de ter saído da escola. Ela nunca conheceu o pai e tem um relacionamento muito conflituoso com a mãe, que a faz sentir muitas inseguranças e se cobrar. Somado a isso, ela não consegue enxergar o seu espaço no mundo por ser uma garota gorda e fora dos padrões.

Após uma briga feia com a mãe, Cecília resolve sair de casa e dessa vez recorre a melhor amiga Iasmin, ao invés de ficar na casa de sua vó. Eis que, Bernardo entra em cena na história. Ela sempre teve um crush enorme pelo irmão mais velho da amiga e agora eles passam a conviver debaixo do mesmo teto.

Por sua vez, Bernardo também tem o seu espaço na narrativa. Ele precisa lidar com problemas em casa que envolvem o relacionamento péssimo dos pais. Talvez o dinheiro compense um pouco as coisas, mas ainda assim ele se sente muito frustrado em ter que lidar com a "fachada de família perfeita". A chegada de Cecília em sua casa acaba abrindo os seus olhos para menina que ele viu crescer ao lado da sua irmã e que agora tinha se tornado uma mulher linda.

"Tudo que conseguia lembrar era do céu sem estrelas."

Juntos eles vão descobrir que tem muito mais em comum do que amor pelos livros e que podem ajudar muito um ao outro num momento em que a percepção de mundo e as relações a volta deles estão mudando. É assim que Iris Figueiredo explora temáticas fortes e nos leva para passear em uma monta-russa de emoções em cada capítulo.



Eu gostei bastante em ver que o enredo da história se passa em um momento que os personagens estão iniciando a vida universitária. Retratar esse tipo de fase, que é comum a muitos jovens, é muito importante para que todos saibam que é normal essa insegurança sobre termos ou não escolhido o caminho certo. Existe uma cobrança muito forte para fazer escolhas que parecem ser definitivas, em um momento onde estamos descobrindo um mundo muito maior, que vai para além das nossas relações da escola. Iris trabalha essas questões tanto através dos personagens principais, como alguns secundários, além de retratar a iniciação científica dentro da faculdade - acho que nunca li um livro representando isso. Pode parecer bobo, mas é muito importante para que as pessoas conheçam a múltiplas formas e caminhos dentro das universidades. E, principalmente, que essa é uma fase de descobertas e cada um tem o seu tempo.

Não sei se foi realmente a intenção da autora, já que ela não coloca a questão com essas palavras, mas ela retrata um relacionamento entre Cecília e a mãe que eu (Atenção! Sou eu que estou falando isso.) definiria como abusivo. Nós estamos mais acostumados a falar e entender a esfera dos abusos em relacionamentos amorosos - que por sinal, também é abordado no livro através do relacionamento de Iasmin e Otávio. Mas vale frisar que também existem outras relações onde o abuso se manifesta, inclusive de pais com seus filhos. Talvez até mesmo mais comum do que os amorosos, mas que é um assunto pouco levantado devido ao senso comum dos pais como autoridades que devem exercer seus poderes sobre os seus filhos. No entanto, as "medidas" tomadas podem ser caracterizadas como abusivas, principalmente, na esfera emocional - que é como eu classificaria a relação entre Cecília e a mãe.



Outro ponto de extrema importância tratado no livro são os transtornos mentais de Cecília - não sou psicóloga, mas acredito que muito decorrente do relacionamento que Cecília desenvolveu com a sua mãe. Não estou querendo demonizar a mãe da Cecília, apesar de ter passado muita raiva lendo o livro, eu entendo que ela também tem lá suas questões mal resolvidas. Mas ainda assim, não justifica a forma como ela trata a filha. Não fica claro logo de cara quais são os tipos de transtornos de Cecília e nem até onde a instabilidade da sua mente pode levá-la, mas uma série de acontecimentos vão rompendo gatilhos que escancaram cada vez mais a sua fragilidade. No entanto, Cecília é uma das personagens mais fortes que já li.

Entre os livros jovens que retratam a temática de transtornos mentais, com certeza, o livro de Iris Figueiredo foi o melhor que eu li. Não apenas pelo enredo e o cuidado em retratar um assunto tão sério ao longo da história, mas principalmente pela nota no final do livro. A autora teve um cuidado que vi em poucos livros em escrever uma nota empática e mostrar os mais diversos caminhos para buscar ajuda. Vale parabenizar a autora e a editora por não terem deixado tais informações de lado.

Não sei nem se realmente preciso dizer alguma coisa sobre o trabalho editorial do livro. A capa está maravilhosa e, com certeza, foi a principal motivação para eu me interessar pelo livro. Como eu sigo a autora no Twitter, eu lembro de nem pensar duas vezes quando ela divulgou a capa: "eu preciso ler esse livro". A laminação da capa é fosca, mas o título e nome da Iris na capa tem um brilhozinho e são em relevo. No interior, as folhas tem uma ótima gramatura com um tom levemente amarelado,  letras e espaçamento em bom tamanho, todo um conjunto perfeito para uma leitura confortável. 

Espero que muito outros leitores se sintam tocados pela história da Cecília, assim como eu; que esse livro possa ajudar a quem sofre de transtornos mentais também enxergue estrelas; e que, principalmente, as outras pessoas possam entender melhor esses transtornos e tenham mais empatia pelos outros.

10 comentários


  1. Oi, Nina,

    Ultimamente - volta e meia -, estou procurando livros intensos e sensíveis, como esse, por viabilizar assuntos importantes e presentes na vida de muitas pessoas, e que evidencia uma identificação.

    Não sabia da intensidade e abordagens presentes no livro e da mensagem realizadora, então agora, mais do que nunca, desejo lê-lo.

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    1. Daiane, depois volta aqui para me contar como foi sua experiência de leitura!

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  2. Este livro está na minha lista de desejados desde que vi o tremendo sucesso que a autora fez na Bienal. Esta obra esteve entre as mais vendidas e isso dá um orgulho, principalmente em quem ama literatura nacional.
    Não é apenas o fato de trazer os problemas de relacionamento familiar, da aceitação, mas também como você citou, dos problemas que esta fase de universidade já traz por somente ser esta fase. E temos romance!rs Eba!!!
    Com certeza, espero poder conferir em breve.
    A capa é maravilhosa!!!

    ]

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  3. Eu não conhecia o livro ou a autora, mas já tinha visto a capa circulando na rede e lembro de ter achado ela linda. Agora que eu sei o conteúdo que ela guarda, percebi que, apesar de linda, ela é uma das coisas menos importantes do romance. Acho muito válido e, na verdade, fundamental, trabalhar temas que, independente de serem complicados ou polêmicos, fazem parte da vida de muita gente, e com os quais geralmente não estamos preparados para lidar. A importância de livros desse tipo vem daí, pra mim: abrir os olhos de todos pra que possamos enxergar o outro com mais empatia, e revelar caminhos que muitas vezes, quem está em uma situação difícil, não consegue vislumbrar sozinho.

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  4. Gostei pela protagonista ser fora dos padrões da sociedade, deveria ter mais historias assim e também por se passar na universidade geralmente a maioria dos livros é no ensino médio, fiquei curiosa em saber mais sobre a personagem ainda mais por ter esse transtorno mental, ainda não li nenhum livro que aborde o tema.

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  5. Olá Nina, tudo bem? Este livro já esta na minha lista de desejados e então não vejo a hora de ler, ainda mais depois dessa tua resenha tão incrível sobre esta historia que retrata problemas de uma forma bem real. Acho bacana ter livros onde as personagens são mais reais, como a gente mesmo. Eu acho esta capa linda demais ♥

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  6. Oi, Nina
    Este livro esta na minha lista de desejos, namoro a capa desde seu lançamento.
    Sabia que a protagonista é gorda, do relacionamento com sua mãe, mas não tinha conhecimento sobre o outro tema abordado como a doença mental.
    Agora preciso muito ler esse livro o mai rápido possível.
    Beijos!

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  7. Oi Nina!
    Quero tanto ler esse livro, coloquie nos desejados, pois as resenhas que li, foram ótimas e mto positivas, a escrita parece ser linda...
    Espero que surja oportunidade logo de ler.
    Bjs!

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    1. Eu estou aqui torcida para que você consiga ler logo, Aline. Como eu disse na resenha, a Iris escreve muito bem! E pelo que já conversei com alguns leitores dela há mais tempo, esse é até agora o melhor trabalho dela <3

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  8. Nina!
    Um romance que aborda temas importantes como a questão da aceitação do seu próprio corpo, depressão, ataques de pânico, suicídio e automutilação, realmente é bem diferenciado e sai da mesmice do plot comum desse tipo de livro, bem interessante.
    Desejo um mês abençoado e uma semaninha de luz e paz!
    “Sede felizes; os amigos desaparecem quando somos infelizes.” (Eurípedes)
    cheirinhos
    Rudy

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